terça-feira, 25 de agosto de 2009

Amanhã começa daqui a pouco.
Gotejo de sono - e me lembro que preciso me vedar para não escorrer todo assim devagarinho. Mas lá vai. Queria medir o intermédio.
Não que seja grande coisa. Provavelmente não, ou nem provavelmente sequer. Talvez chato, irritante. Mas t'aí.
Nunca consegui ter clareza com o formato de amanhã, muito menos como um intervalo. É um lapso. Pior quando daqui a pouco. O horizonte menos horizontal de futuro que há. Fugaz sem a decência de uma utopia, sem o barulho da turba revolucionária ou a comoção hippie pós-Beatles que falou que o sonho acabou. Mas lá vai. Daqui a pouco. Daqui. Aqui mesmo. Daqui até ali, nesse pouquinho que falta, miséria desmedida, mistério pouco. E não vai até que foi. Isso é daqui a pouco. Não tem quando e é tempo. Amanhã na iminência é a forma acabada do inferno de pequenas causas, o destino sem chegada, acordar do sono ainda moleque, mas já na cama tendo estado no carro do pai antes do lapso à noite.
Lá vai.

Amanhã.

E persiste essa porra. Daqui a pouco é que fica pra trás, à frente.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Filosofia numa cacetada só (ou duas, vai) vol. 3



Gilbert Ryle



'Knock, knock!'


'Who is there?'


'Gilbert Ryle!'


'Come inside'


'You know that this does not make any sense at all.'

domingo, 9 de agosto de 2009

Caro Primo Levi,

... a Phillip K. Dick-head in my dreams;

Quero premiar a radiotransmissão com louros e vitórias. Brindar pela conectividade e pelo sexo entre polinésios e arawaks. Pela aldeia global e outras formas de salvação pela eletricidade. Quero apertar as mãos da radiotransmissão e lhe dar um abraço fraterno, como na aldeia de verdade. Mas só quando for honrada e chegar ao topo, virar heroína cultural, ou personagem conceitual com fama de arquétipo. Mas ainda não dá. Ela fez muito pouco até agora. No caso da televisão, por exemplo. A televisão só liga. Ansioso, torço para que chegue o dia em que ela ligue-de-novo, com botão discriminado no painel. Aí sim veremos algo digno de reunião da tribo. Pois afinal, qual seria o limite de um radioreceptor que além de ligar, e além aqui tem um sentido muito forte, liga-de-novo? Sem haver desligado?



Mas ainda há tempo de mandar um salve para o senhor Simpson.


'Salve, senhor Simpson!'.


Mas ele ainda não nasceu e não posso abraçar por radiotransmitidos.





sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Ah, se havaiano fosse um Georg Simmel...

Ouvi dizer nas letras que leio por hábito que o mar e o céu coincidem em ao menos uma linha, o que mais fortemente há quem faça por jogos sorrateiros entre constelações e movimentos ordinários. No marulho que persegue cada resvalar do vento, que impede ou impulsiona qualquer aproximação, é impossível deixar de considerar. “Nas estrelas está todo o passado, presente e futuro”, uma máxima que ora custa milhões, de dólares e de anos-luz. E pensar que eu queria escrever sobre o advento do rei-estrangeiro havaiano. Acabei falando, por carta, dos valores astronômicos que o capitalismo moderno não consegue deixar de praticar.

Que engraçado. Parece bom dizer que o céu e o mar coincidem na linha do horizonte.






(em homenagem ao quebradiço Querela)