Há forças em sair do lugar e forças em ficar. Nelas se enervam todos os desdobramentos do filho pródigo, inclusive as tramas que não podem ser escritas para toda revelação. Há forças em ir e ficar, mas não são compatíveis e nisso há uma lição indispensável. É a fome indisposta com a epidemia que, no entanto acontecem ambas. Ao ir perde-se a família e o familiar, e a mais tola reminiscência da rotina é pura investigação e tocaia. Ao ficar tudo é família, mesmo a mais sórdida interrupção assume ares de velha história. Há quem more lá, há para quem por quem se passa é que a morada funda. Nascem o vagabundo e o artífice da vila.
“Estrangeiro rouba nosso trabalho.”
“Vilarejo que interrompe passagem.”
“Veio para roubar nossas crianças.”
“Veja como maltratam suas crianças”
“Come do nosso pão e se vai antes de plantar o trigo.”
“Calculam o peso da farinha para deixar estragar por estratégia.”
“Amaldiçoado!”
“Bem-dita! Estava cansado. Cheguei! Trago na testa os caminhos de lá até aqui. Não te conheci, jovem, mas passei por aqui mais de 10 vezes. Nunca cheguei da mesma viagem. Mas sempre me sento aqui, em frente a esta padaria que, salvo morte ou peste, abriga as mesmas almas que se desprendem de água e pão para recompor meu bom-humor e minhas forças. Há histórias que tenho que contar a Hjman. Ainda mora aí?”
“Toda sua vida.”
“Este capítulo eu sei. Digo, pergunto se ainda é vivo. Mas isto respondeu sem querer.”
“Quem é o senhor?”
“Hjman. Também.”
Das definições de vagabundo todas estão embalsamadas nas páginas de livros pesados que viajantes não levam e, quando leves os dicionários, não carregam nada mais que a versão corrente. Que corra é bom, mas é curta demais e não preserva as histórias que um vagabundo deve saber contar para levar adiante esta tradição, em sentido forte. Há versões de andarilho, preguiçoso, traiçoeiro, sanguessuga, nômade, cigano, pobre, estranho, estrangeiro, iconoclasta, sombra-noturna, escapa-jegue, camelô e (há um nome antigo para vendedor ambulante ao qual não me recordo e que deve figurar aqui nesta passagem entre parênteses; aqui jaz um lapso).
Nada há na vagabundagem qualquer oposição à morada. O mesmo não pode ser dito com relação à Lei.
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Hjman
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Refrator de Curvelo (na foto do perfilado, restos da reunião dos Menos que Um)
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12:07
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sábado, 17 de outubro de 2009
Nota meteorológica e notícias de trânsito
- Dois dias atrás pareceu chuva, isto é, que choveria. Ou que seria chuva. Todos molhados nos sapatos, cobrindo o penteado, encolhidos dentro das roupas, remoendo o frio que parecia fazer. Até alguma correria visando marquises e aconchegos em bares e cafés ocorreu, impedindo a passagem nas portas das lojas, o que aos poucos foi parando tudo. Dos pés plasmados nos chãos de grife o fio d´água ligava por caminhos escorridos as borrachas das solas e dos pneus, um e outro parados também. Isso porque parecia chover. Ontem foi pior. Ontem choveu.
- Dois caminhões passavam na ponte Rio-Niterói quando, em meio à neblina, a ponte perdeu o caminho e acabou em São Gonçalo-Meriti. Os motoristas asseguram que o ocorrido foi acidente e que não se encontravam alcoolizados. A secretaria de transportes estuda formas de resolver o problema uma vez que a incidência de transporte de vias de transporte, transe e transtorno afetivo de autopistas tiveram um aumento 45% maior neste ano. Só no mês de agosto 23.000 pessoas saíram de Copacabana com destino a Botafogo e tiveram que passar por Irajá por causa de situações de mal-estar de túnel ocasionada por efeito psicotrópico de emissão de 250 decibéis de monóxido de carbono por segundo. Neste momento a Av. Brasil flui bem, sem congestionamento ou congestão nasal, mas a Perimetral não apareceu, o que trouxe confusão para a vida do carioca neste 12 de outubro.
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Refrator de Curvelo (na foto do perfilado, restos da reunião dos Menos que Um)
às
10:02
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