E morreu coisa nenhuma, o velho feiticeiro, prestidigitador, esvaziador de humanismos, matador de contendores. Gente feito ele não morre. Migra. Vai para recantos que não ousou adiantar o caminho por não haver preparo para seguidores possíveis. Discreto, avesso à própria biografia, contava só o que a palavra dizia de forma clara e distinta, mesmo que em cada frase coubesse uma franja a mais para o descontentamento com a semântica aprisionada. O positivismo roído desde dentro. O cara construiu uma máquina tradutora de casamentos (As estruturas elementares do parentesco), outra de intermímese mitológica comparada (As mitológicas, maiores e menores), além de um devaneio no povoado do real aprofundado num paisinho triste mesmo, tão triste que finge carnaval para se suportar - não entabula uma conversa conseqüente sem entrar no desespero profundo.
O velho feiticeiro enterrou todos seus contendores, ferindo-os de morte com o silêncio dos 'sem-resposta-pois-a-resposta-já-dei-antes-da-réplica-e-você-não-entendeu-nada', arte ensinada pelo velho amigo de Borges, Roger Caillois, inimigo que quase o matou com uma flecha espiritual (a última lançada pelos surrealistas antes de o sobrevôo sobre o real poder ser alugada para passeios turísticos). Deixou um Marshall Sahlins cardíaco e de sobreaviso:
"As mitológicas já estão feitas, meu caro. Não adianta."
Cabe aos que ficaram a tarefa mais difícil, a de agüentar o peso. E é melhor nem falar muito o nome do cara. Vai que ele volta, aumenta a carga e vai de novo, deixando aquilo tudo pra gente carregar adiante.
E olha que estou falando só sobre o sujeito da calça jeans. Imagina se fosse sobre o antropólgo estruturalista - num passeio surrestruturalista?
2 comentários:
Levi-Strauss é uma estrutura - não morre, se transforma.
pode achar estranho, mas achei essa a melhor nota de falecimento do L-S que li...
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