Des forces invisibles et inconnues. Por algum tempo, e quem sabe em plena duração, fora essa a forma de designar o conjunto de movimentos que fazem da vida humana algo meramente animal e, logo mais, algo além. E, por isso, e com algum incremento, humana. Defini-la custou muito papiro de cânhamo para que fosse dado o passo de abandonar o esforço analítico aristotélico tão bem disseminado. Matéria desnudada é matéria morta, define o empreendimento erigido nas bases sólidas do estagirita. Por em dois planos aquilo que só pode ser em conjunto, na forma tão delicada quanto perigosa do être ensemble, sugerindo a figuração da polis na composição do mais reles movimento. Isto porque, Aristóteles, a alma nada sente se não for no sentido do corpo. As afecções são matéria do corpo, isto é, a extensão da matéria, que se move por extensões por determinação daquilo que se move a si mesmo, a alma. No entanto, definido, mas sem retrato. Insatisfeita a linhagem contra-Estagira irrompe ao buscar não somente representar a morte segundo o que lhe é alheio, mas por trazer à luz os representantes da morte, de fato e de direito. Pôr à mostra os mortos exemplares de alma nua, com finalidade de dar visibilidade das forças invisíveis e desconhecidas. Num jogo mecânico, podemos ter as fotos de família que os espíritas ao redor de Kardec e Doyle promoviam, num círculo de civilidade que só reafirmavam a bela vida doméstica e as saudades do falecido pai. Contudo, há quem se dispusesse a mostrar outra alternativa de captura, fazendo da imagem do morto algo que deve mesmo ir embora: vapores, energia elétrica, luzes disformes, toda sorte de fonte que começa a cessar de agir por sobre o corpo em seu inverno mais rigoroso – rigor mortis. Se Hyppolite Barraduc fotografa cadáveres em sua última centelha, antecipando o momento fátuo do fogo, é peculiar que se permita existir a impressão nua das antropometrias de Yves Klein que repõe a exalação de mera energia quando ainda vivos. Imprimir a desfigura antes que se abandone o corpo que, todavia move até que deixado; deixar que se mova.
2 comentários:
Eu lembro de uma passagem da Trilogia de NY em que um sujeito segue outro; esse primeiro sujeito fica andando pela cidade, fazendo trajetos erráticos. Depois de vários dias, o segundo sujeito descobre que o primeiro está escrevendo mensagens com o próprio corpo, com o próprio trajeto de seu corpo pela cidade. Cada trajeto forma uma letra, e assim sucessivamente.
É impressionante como a noção de assinatura se transforma, por vezes, em uma variação tipográfica, né? Na versão do Auster, animismo é quase a mesmo que assinar um cheque.
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