sábado, 11 de fevereiro de 2012

E eu, que parto para a Hiléia hoje...

Hoje acordei em meu próprio medo. Acordei em seu meio e estou, como não poderia deixar de ser, um pouco afogado. Parto hoje para Belém com vistas em seguir viagem para Altamira. Somente amanhã, já acordado e devidamente hospedado na Cidade Velha que começo a bolar a próxima etapa da viagem. Confesso que tenho vontade de fazer a viagem de ida de barco, mas ainda desconheço como são feitos os serviços deste tipo de transporte, e não tenho idéia de como funcionaria a escala em Vitória do Xingu, anteposto para seguir viagem até Altamira. A outra alternativa, segundo consta, será tomar um ônibus ainda em Belém, seguindo por 900 km de viagem cujas estradas estão, em mais de 70 % em estado de terra crua. Agora chove. Amanhã, deve chover. Depois, o mesmo. E assim segue a vida por lá, em caldos e caldos de rio. Braços fortes, margens distantes, bancos móveis e curvas delicadamente planejadas para que a distância entre 200 metros sejam mediados por 3 quilômetros de caminho sinuoso. Não faz parte dos meus planos vencer um rio que seja, o que me faz esperar que um deles possa cooperar comigo.

Há dias que durmo mal e passo os dias buscando antecipar o que poderá ser esta viagem. Confesso que não tenho as melhores lembranças de Belém, e tampouco carrego com muito carinho os relatos de tantos amigos que como eu, envolveram-se em outras tantas histórias do Pará. Foram dias de seguir perguntando o que diabos farei em uma terra que o diabo mesmo talvez não faça lá muito sentido, especialmente nas ocasiões de maior tentação.

Viajo para tão longe, pagando do próprio bolso que andava furado até a bem pouco tempo. Vou visitar um amigo que trabalha em uma panela de pressão e que, ainda assim foi duramente assediado por colegas dos tempos universitários que cederam à idéia de que um governo qualquer que fala em nome do povo está acima do bem e do mal. A covardia dos poucos amigos que pavoneiam em ares condicionados dos dutos de Brasília nunca tomou o cuidado de testemunhar e formular, com a devida cautela, um mínimo de reflexão quanto às conseqüências de algo tão peculiar e perigoso quanto a Aceleração do Crescimento. Estamos em um ambiente em que, e isto é visível, o futuro desejado está logo aí, bastando executá-lo. Doce ambigüidade da palavra, poder executivo, poder executor.

Viajo para tão longe para escrever aos poucos, num ritmo tão lento quanto é o prazo que a compreensão demanda para algo assim: a mudança de tudo para tanta gente, como é de acontecer nos braços de rios-alvo de barragens construídas à base de concreto e monólito.

Um comentário:

Permafrost disse...

"algo tão peculiar e perigoso como a Aceleração do Crescimento"

Há tempos tou pra publicar algo sobre o pogréssio, modelo burro de crescimento brazuca. Talvez daqui à umas semanas.