quinta-feira, 23 de junho de 2011

Meu Avô






Cresci já faz um tempo e, não tarda muito, começo a encolher os centímetros que a velhice toma para si e esconde no bolso de trás. E, confesso, tenho torcicolo procurando orientação num momento como este, porque não tive avô. Quero dizer, tive. Dois. Um, avô natimorto. O outro, distante nas Minas Gerais, aparecia em refúgios temporários para tomar café na varanda, comer mamão com aveia de manhã e partir em meio às histórias da linha telefônica que conseguiu com minha avó, não a casada com ele, sem nunca ter pago. Sabe, linha telefônica, nos idos anos 60 custava o mesmo que dar entrada em apartamento. Num vai e vem periódico, meu avô não foi aqui.

Mas eu passei muito tempo ligado em televisão, de mil e uma formas e, ainda há pouco, percebi que estive na boa companhia de um velho durão, mas gentil nas horas e formas mais adequadas, e que me convenceu que há variedade do lado de lá. Este, por fim, faz quadro a quadro a coletânea de todos os sexagenários que me deram as mãos em momentos descolados entre si, e que só tem em comum a minha memória. Assisti a Gran Torino e vi que Clint Eastwood é o avô que eu não tive. Não Clint, mas nos quadros em que aparece, aos poucos, como Walt Kowalski et al. As lágrimas que não perdi até então com a velhice viril dos avôs que mal tive devem rolar em pouco, me diminuindo o volume e me fazendo, um pouco menor, um pouco mais velho.