quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Finais exemplares para um romance americano em tradução ruim

Foi então, quando caiu. Não exatamente como soa, mas de forma indecente o suficiente para deixá-lo triste. Talo sem água, pétalas murchas e o odor do tempo acumulado se fazendo em sebo e suco. Nada agradável de ver, especialmente quando reunido numa festa de ex-alunos, prédica de tudo o que violaria a santidade do funeral que pela queda dá sinais para além da óbvia aproximação. Já não era seu. A bem da verdade, pousado em minhas mãos e sem qualquer vigor ou movimento, a trama parece estar chegando ao fim. O barulho não incomoda mais e tampouco ouvimos o silêncio. Os papéis da diretoria espalhados no chão já não causam medo de sermos pegos. Não na idade em que estamos. Ainda que sem luz que não seja uma sobra azul escura projetada pela distância do prédio ao lado pude ler, em meio ao apocalipse morno e amuado em que se transformou o reencontro, o nome de alguns garotos que em nosso lugar teriam muito o que temer. Não há coragem naquilo que fizemos. Quase desejo sorte melhor aos rostinhos de quem ainda se assusta com um mero diretor de uma escola de segunda categoria, mas é sempre quando me lembro do que faria no lugar do velho inútil que se senta nesta mesa me descabelando em favores para conquistar um mínimo de intimidade entendendo estar ali, naquela cadeira o pouco de aventura que alguém como eu poderia ter. Cheguei a me esquecer de que estava acompanhado ao ponto de não estar mais, o que percebi tarde. Restaram-me as fotos sobre as quais e com as quais já não há mais nada a dizer. Aqui não cabe trama alguma. Que entre a merda do diretor.


Afaste-se, narrador.



4 comentários:

Michelle Siqueira disse...

Fico olhando hipnotizada pra esse alvo sempre que passo por aqui... Adoro esse alvo. Mas desta vez me detive em algo mais... Amor como marcador do texto? Se fosse um romance sulamericano escrito por mim, não escolheria esse final. A paixão não conhece covardia e não é exercida por covardes. Eles dão a ela outro nome.

Michelle Siqueira disse...

No mais, acho que tem gente precisando correr de patins e beber uma Leffe estatelada de fria... que é pra "estabilizar". Muito trabalho gera ausências e quem fica muito ausente um dia deixa de fazer falta... Bjo!!!

Refrator de Curvelo (na foto do perfilado, restos da reunião dos Menos que Um) disse...

Romance americano, obviamente, segundo o clichet que diz que "americano" cumpre o papel genitivo de "dos states".

E sim, corro o risco de deixar de fazer falta. Faço muito isso, e nem sempre preciso ficar ausente. Não é todo mundo que é insubstituível, muito menos eu.

Mas eu estou por aí. O trabalho é pesado, mas nunca fecho a porta quando tenho visitas. É só apertar a campainha que eu estou sempre no mesmo lugar.

Michelle Siqueira disse...

Opa... Clima inóspito. Vou só colar aqui o que vim colar, por uma mera recordação, ordinária, e vou já embora.

[Credo]