TYLOR,
Edward Burnett. Primitive Culture:
researches into the development of mythology, philosophy, religion,
language, art and custom. John Murray.Londres. 1873 [1871]
16-
Em seu argumento que contrapõe a eficiência industrial da cultura contra a
inutilidade do simbolismo direto das superstições, dentre as quais estariam
seguramente o cálculo do futuro por via de profecias, Tylor se pergunta a
respeito da sobrevivência dessas coisas inúteis que, sugere, tiveram alguma
utilidade outrora. É evidente que a noção de utilidade é flagrantemente
anacrônica, mas é ela quem estabelece a relação entre fins e meios pelos quais
os critérios de racionalidade na planificação, tanto da economia como da
política. Assim, em especial no que tangem os atos de fala e sua função, é na
alteração dos meios que uma determinada fórmula eficaz se transforma numa
espécie de maneirismo em que a função não se altera, mas já não encontra
qualquer correspondência com o meio em questão.
O papel das superstições, neste caso, se
restringe à esfera da dominação na forma da justificação como subterfúgio da
linguagem, criando a cena na qual um erro lógico – ou um erro de atribuição de
valor – é encaminhado de forma apropriada. Seguindo à risca os métodos de
prestidigitação, induz o paciente a olhar para o outro lado, ou o distrai
criando movimentos que fazem de um gesto banal
em evento com contornos circenses. A finalidade toda parece ser, por fim,
uma espécie de liturgia política em que a potencia do gesto faz com que o
sacerdote, o mágico, o xamã encarne uma autoridade ainda maior. Assim:
“Prophecy tends to fulfil itself,
as where the magician, by putting into victim’s mind the belief that fatal arts
have been practised against him, can slay him with this idea as with material
weapon. Often priest as well a magician, he has the whole power of religion at
his back; often a man in power, always un unscrupulous intriguer, he can work
witchcraft and statecraft together, and make his left had help his right.”
(Tylor, 1871:121)
Não ha qualquer distinção entre magia e
religião, dado que ambos estão relegados ao império dos maus hábitos e, por
isso, são indistintos. E com magia e religião, o universo a ser debatido é o
apogeu e o declínio de certas opiniões. Assim, religião é algo que se diz a
respeito de algo enquanto outra coisa se dá – ou seja, nada que seja
especificado com clareza. Uma sobrevivência cultural implica na sobrevivência
de certas fórmulas recuperadas ou mantidas em uma trajetória diacrônica própria
aos exercícios de imaginação e arqueológica. Como, por exemplo, a condenação de
anátema que, todavia, não exerce dos mesmos dispositivos jurídicos como ato de
condenação uma vez que, a Igreja Romana, antes disposta como parte da ordem
territorial, fora desterritorializada – um outro nome a ser dado ao dispositivo
jurídico de “secularização”, o que para Tylor atende pelo nome de iluminismo – a forma excelente de
produzir diferença no mar de formas indiferentes da superstição religiosa, esta
redundância.
“Reform of religion was no cure
for the disease of men’s minds, for in such things the Puritan was no worse
than the Inquisitor, and no better. Papist and Protestant fought with one
another, but both turned against that enemy of human race, the hag who had sold
herself to Satan to ride upon a broomstick, and suck children’s blood, an to be
for life and death of all creatures the most wretched. But with new
enlightenment there came in the very teeth of law and authority a change in European
opinion.” (Tylor, 1871:125)
O iluminismo, em especial em seu veio
libertino, veio para acabar com o diabo que é, obviamente, a maior das
superstições.
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