sábado, 7 de janeiro de 2017

A FALÊNCIA DO PULMÃO DE AÇO



PIGLIA gostava dos jogos que Paul Auster tentou, certa vez, participar. Quando o escritor da Trilogia de Nova York arriscou das suas, conseguiu a sorte grande quando criou um jogo de baseball em uma carta de baralho, mas falhou flagrantemente quando abriu a porta para si mesmo - respondendo a personagem que, na mesma porta, batia: "Paul Auster" para Paul Auster abrir. Piglia não. Em Nome Falso ele mostra como funciona o jogo. Em busca do manuscrito inédito de Roberto Arlt, tão importante em sua respiração artificial - romance ao qual ainda dedico minha vida -, ele acaba por reconstituir a relação do autor de Os sete loucos e O lança-chamas com a figura fabulosa de Saúl Kostia - descrito com não poucos traços do Rigoletto, o corcundinha.



"Kostia era um sujeito gordo, asmático,que respirava ofegando. Estava sentado junto a uma mesa do fundo, no Ramos, rodeado de copos de cerveja, ao lado de uma mulher muito decotada e vestido de azul-claro e de um sujeito magro, de ar consumido e febril. Kostia falava como se estivesse pregando e a todo momento secava o rosto com um lenço amassado e sujo."


Este, o amigo de Arlt, carregava consigo a peça derradeira, aquela que permitiria um não sei o quê indiciário que permitiria a Piglia reapresentar o escritor Alrt à literatura argentina a partir do malefício do manuscrito inédito. Esta mesma literatura, reafirmava sempre que possível o mesmo Arlt, precisava urgentemente de escritores ruins para se salvar de si mesma - coisa que Macedónio Fernandez levou aos píncaros em Museo de la novela de la Eterna na criação do gênero da novela ruim. O fato é que Kostia era amigo de Arlt. E Arlt, por sua vez, apontava em Kostia aquele que seria o maior poeta argentino vivo. 


"Ele é um poeta", dizia Arlt. "Nós somos simples operários da literatura. Com a morte de Lugones, você, Kostia, é o único poeta que nos resta." Kostia morria de rir. "Digamos que eu seja Balzac", dizia-lhe Arlt. "Mas você é Mallarmé."


Na mesma página, a de número 39 da edição da Iluminuras traduzida por Heloisa Jahn, temos uma nota onde um poema de Kostia está transcrito na íntegra. Fruto de uma publicação da revista Claridad de 24 de agosto de 1941, o poema:


Ciegamente atado
a la tristeza y al vino
leoloslibros escritos por mi, recuerdos
deslucidos, tambaleantes poemas
y rancias fotografias
rastros puestos en la noche cerrada.
Miro la ziguezagueante línea errónea
todo yo ceñido a la tristeza
y a la luz, la luz
que serenamente ya no se puede contemplar
lainflamada luz de mi cabeza
y esos fulgores de lentitud
sobre el mismo cimineto de todas mis palabras
a la tristeza ligadas, y al vino,
y a los golpes de viento negro
que enpujan mi poesía al desencuentro.
Todo yo me veo comoun morir
más muriente a los treinta años de amaneceres
y de noches, sobre todo, sabiendo
que hay un automóvil estacionado a la puerta
de mi expuesta casa
y hay un paciente, un indiferente,
un estulto chófer,
que me conduzirá a la muerte.
Así, entre inpublicados libros
y libros nacientes,
entre fotografías y botellas
y amigos desaparecidos bajo la tierra,
oyendo el fragor del mundo en llamas espero
el acabamiento de los plazos. 



Seu prazo, inferno, se deu no dia do meu aniversário. 

Nenhum comentário: