CHAPELAIN,
Romain. (1848). Manuel du républicain –
resumés des constitutions françaises depouis 1791. Paris. Impremierie de
Mme. De Lacombe, 12, rue d’Enghien.
O ano é de 1848. Um longo
período marcara distância entre o Comitê pela Instrução Pública e suas primeiras determinações, a publicação de libelos institucionais e livros que deveriam
ser lidos para a instrução do espírito público e, por via disso, instrumentalizar sua própria gestação. Sua própria gestão. De todos os manuels que li até então, o de Chapelain é o que mais
se aproxima daquilo que Jean Michelet definira como publicação com a finalidade
de instruir o cidadão com relação à constituição e a realidade política de seu
país de forma que deixasse de ser refém de seus governantes. Cabe avaliar se o Manuel em questão não foi produzido sob
os auspícios do mesmo círculo do qual Michelet veio a fazer parte, o que é
matéria de estudo. O caso é que o documento em questão cumpre a função variada
de ser um informativo com relação às instituições políticas francesas, compondo
um panorama histórico a partir da revolução de 1789 e que, por editar os
movimentos constitucionais do país, e por ser econômico em seu tamanho, se faz
um livro altamente portátil e passivo de ser lido em voz alta para os analfabetos sem prejuízo nem
para o leitor e tampouco para seu ouvinte. Resta saber quais são as
informações, qual é o mode d’emploi da
cidadania republicana descrita e desejada por este documento. É assim que faço
sua leitura.
Il est
une mesure en toutes choses, il est enfim des limites aûres au-delà et en deçà
desquelles le bien ne peut s’établir.
Tradução de Chapelain para
est
modus in rebus, sunt certi denique fines, Quos ultra citraque nequit consistere
rectum, de Horácio (Sátiricos?).
Esta é a epígrafe do livro. Dificil saber
o peso de uma marca tão pequena como essa, registrada na página seguinte ao
forntsipício pomposo, dotado de folhas de louro como insígnia, ainda mais tendo
a relação entre uma e outra, a frase em francês e em latim, composta sem
nenhuma relação que não seja a contiguidade. Afora alguém minimamente letrado,
a frase de Horácio em latim teria sua autoridade roubada pelo leitor que não
soubesse fazer a relação, que não soubesse o papel de uma epígrafe. Contudo,
para aquele que fosse iniciado nas artes mínimas do cidadão (ser alfabetizado
segundo princípios que ainda investigo) a frase em francês traduz a idéia de
que o Manuel contém os limites dentro
dos quais o Bem pode ser estabelecido.
“Un gouvernement vient d’être renversé; la
République a été proclamee. Dans cet état de choses, il nous a semblé quíl
pouvait être utile de présenter au public, sinon le tableau complet, du moins
le resumé succint et clair des différents essais de constitutions qu’on a faits
en France depuis eviron soixante ans. On verra, par le nombre même de ces
essais, combien il est difficile de parfaire un constitution viable et durable,
et combien, par consequente, il est essentiel de prendre au sériuex la nouvelle
constitution que nous avons à faire.”(1848:01)
Eis
a primeira coisa que o leitor deve compreender. Que as constituições não são redigidas
por acaso ou por mero capricho ao mesmo tempo em que sua substituição por uma
nova deve evocar a necessidade de compreender a história do processo
constitucional. Este é, segundo o presente Manuel,
o terreno em que o bem pode encontrar refúgio. Em seguinda, Chapelain diz que a
França é uma pais de excessos, aonde há sonhos e sentimentos em excesso e que
há temas nos quais se reflete de menos, em que há pouco cálculo, e as
considerações sobre o espírito público que atingem a forma de uma constituição
não devem ser produzidas por via simplesmente da imaginação. Vê-se a forma
política do cartesianismo como a forma vulgar e privilegiada de being clever (segundo a forma deliciosa
sugerida por Geoffrey Sutton). O cidadão deve ter método porque o espírito republicano é, antes de mais
nada, um espírito de precisão e comedido, sóbrio e sábio, e que se perde tanto
quando quer fazer coisas demais quanto quando nada quer fazer.
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