[Nota: tento chafurdar nos bastidores da secularização, ainda que minha apneia seja a de... bom, a de um antropólogo de gabinete. digo, leio alguns dos proponentes disso que se transformou numa conversa de bêbados em que, no final das contas, ninguém mais sabe qual é o assunto. preferi recuar para ver no que é que dava e deu em algo. descobri a obra de Ernst Troeltsch que vida de regra é muitíssimo mal comentada e não tem apreciação crítica no país-Brasil ainda que tenha sido ela que viesse a colocar em primeiro plano a relação entre secularização, Landeskirche e Estado moderno que, no final das contas é a correlação determinante para a discussão interminável sobre a existência ou não da secularização como categoria analítica. Obviamente que, ao anotar a leitura, deixei-me escapar a mim mesmo, o que não deveria e sigo em minha campanha de reconhecimento de Paris como o maior Museu a céu aberto do mundo - e se entenda que não se trata de acusação, mas de um esforço compreensivo.]
TROELTSCH, Ernst. The social teaching of the Christian Churches (2 vol.). Library of Theological Ethics. 1931
TROELTSCH, Ernst. The social teaching of the Christian Churches (2 vol.). Library of Theological Ethics. 1931
Aqui o argumento de Troeltsch resvala em algo que eu não
posso comentar em nenhuma profundidade dado o tamanho do meu desconhecimento.
Contudo, ao começar a comentar o papel da ética protestante segundo a
intervenção decisiva de Luthero, Troeltsch recupera o argumento metodológico
que determina a autonomia da ética e da religião como elemento da compreensão
sociológica. Ainda que a teologia protestante se desdobre em não poucos efeitos
na organização social do trabalho (economia política), o que Troeltsch ressalta
é que o que move Luthero do princípio ao fim são questões eminentemente
religiosas e que este aspecto serve de princípio analítico. É bem verdade que a
biografia de Lucien Febvre parte do mesmo pressuposto, apresentando um Luthero
cheio de considerações quase que exclusivas com relação à Igreja, isto é,
motivado exclusivamente pela religião, e mesmo a história-vulgata de Pierre
Chaunu não mostra outra coisa. Feliz ou infelizmente, o trabalho de pesquisa
não se dá pelo voto da maioria, ainda que não tenha recursos para me contrapor
ao ponto de vista. Resta marcar a diferença de tratamento com relação à
teologia do medievo, especialmente com relação ao tomismo como doutrina, o que
mereceria uma atenção maior, tanto da minha parte como da parte de Troeltsch.
Este aparte não é meramente detalhista, uma vez que aponta para um problema
relativo à autonomia do religioso e do ético que vacila em maior ou em menor
medida e que, no cômputo relativo aos momentos decisivos, a maior autonomia
coincide com a história do cristianismo exemplar segundo a narrativa
sociológica de Troeltsch. Com isso vale afirmar que, ainda que isso não seja
absolutamente arbitrário e que não haja razões de sobra para eleger os períodos
e as marcações determinantes em que a vida religiosa cristã apareça em sua
maior autonomia – notadamente, nos Evangelhos e, então, na teologia Lutherana
-, a periodização luterana é profundamente comprometida com um certo estado de
espírito, o mesmo estado que compromete a relação de Émile Durkheim com uma
certa noção republicana de religião civil que o faz coincidir morfologia social
com sistema classificatório produzindo um modelo pedagógico de sociedade que a
faz, no espelho da natureza, um espelho para e de si mesmo fazendo do Museu o
templo maior da vida republicana.
Troeltsch é teólogo luterano. Brilhante.
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