quarta-feira, 1 de julho de 2015

ESPIRITISMO COMO HISTÓRIA DA ANTROPOLOGIA



E aí eu estudo um negócio cuja relevância parecia desacreditada porque não se tratava senão da pequena burguesia parisiense inventando moda. Espiritismo, psicografia, fotografias de fantasmas.

Então, segura essa:

"Embora vá falar acerca do que escrevi - os meus livros, os meus artigos e outros trabalhos -, acontece que, infelizmente, esqueço o que escrevo quase imediatamente depois de acabar. Provavelmente, isso trará alguns problemas. Creio, no entanto, que há alguma coisa de significativo no facto de eu nem sequer ter a sensação de haver escrito os meus livros. Tenho, ao contrário, a sensação de que os livros são escritos através de mim, e, logo que acabam de me atravessar, sinto-me vazio e em mim nada fica."

Primeiro parágrafo das conferências de Mito e Significado. Claude Lévi-Strauss​ sonambule, vagabonde, medium. Poderia acrescentar: dissociado, amnésico, degenerado.


Que fosse um aspecto menor, este acesso místico que Lévi-Strauss parece ter com relação às doutrinas do significado. Mas os leitores de La Pensée Sauvage sabem muito bem. Em especial Maurice Godelier, que deixa bem claro que recusa a versão de seu mentor para quem o sentido vem de uma só vez, num arrebatamento de toda sua possibilidade, e não em etapas lógicas como o positivismo em geral, e a epistemologia genética em particular, defendiam na mesma França que teve no judeu belga seu maior antropólogo. Esta mesma experiência, este mesmo arrebatamento, é o mote justificador das mitológicas - e mesmo, da lógica mítica na qual os mitos se pensam através dos homens ou, de outra forma, os atravessa pensando-se em seu lugar. Os homens são, por fim, o meio de transmissão do mito, eles mesmos o fato mítico a ser comprovado. Não por outra razão, minto, as mitológicas só poderiam ser, por fim, mais um mito que, uma vez escrito tem como destino ser, uma vez mais, esquecido.


(para Suely)

2 comentários:

LEAL, D.A. disse...

Caríssimo, você não tem essa mesma sensação quando escreve algo? Me sinto da mesma forma e sou obrigado a reler intensamente o que escrevo se tiver que falar a respeito. E com você como é?

Refrator de Curvelo (na foto do perfilado, restos da reunião dos Menos que Um) disse...

Não sei. Esqueci.