quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

A vida com alarme


Era uma noite fria e escura. Ainda que tivéssemos aquecedor, luz elétrica, fonte regular de energia. Fria e escura. Não era menos noite fria e escura porque não estava, eu, no frio e no escuro. Ou que o frio e o escuro estivessem frequentemente fora de vista, intocados. Fazia frio, eu sabia. Ainda que inerte, encostado no canto do quarto, digitando toda sorte de coisas com vistas em passar o tempo lento das petites chambres, suando ao som das ondas de calor ejetadas de uma máquina seca, não era difícil induzir que algo ainda persistia, o que era o mesmo do que fora há 2, 3 horas atrás. As massas de ar são tão estáveis quanto os notórios limites da minha inteligência que, ainda que acorrentada pelo desinteresse, sabia. Era uma noite fria e escura. Era tudo o que eu poderia saber, tudo o que poderia passar, era tudo. Não era uma noite seca, não o suficiente para que fosse, noite e seca. Não chovia, não ventava, não se movia de si. Nem eu. E assim seguiu até que viesse a manhã que, por uma razão peculiar às longas noites de inverno, permitiu dizer que era um dia frio e escuro. O contágio se dá, às vezes, por inspiração, por um suspiro, por um espirro. E ficamos todos encostados no canto, frios e escuros protegidos pelo calor parado de um quarto pequeno, quente e iluminado. A isto quero chamar de laboratório. E ao resto, a vida de laboratório. Tão imediatamente quanto possível é preciso atentar à marca de que são quartos, quartos de dormir, salas de jantar, quartos, cuja regra básica de conduta está na observância das normas de segurança. Podem pegar fogo, e ninguém quer que isso aconteça. 

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