quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Últimas palavras de um curso sobre romantismo


“... e por isso, e é difícil conseguir dizer qualquer coisa sobre isso, é que não se trata de uma vida dupla. Porque na verdade, é muita presunção que se possa ter isto, que se possa viver uma vida inteira. Esse tipo de partição e a angústia que ela provoca, o desespero de ser um só, o desdobramento do corpo por via de partes menores faz com que, ainda que otimista, se trate de uma meia-vida. O caso é que posto assim o otimismo se dissipa porque estaríamos falando do decaimento do Carbono da matéria já morta, Carbono o elemento de base da matéria viva. O que resta de otimismo nisso tudo, e que de alguma forma ainda pode ser belo tanto quanto é, seguramente, intenso, é o estado vívido em que a morte se apresenta, justificando a figuração, tantas vezes colegial, do tenebroso nas roupas em que o vestiu o romantismo em suas versões mais extremas e desgostosas. Álvarez de Azevedo, por exemplo. Um cadáver ambulante, amante de cadáveres expostos, para quem o turbilhão das paixões aumenta exatamente no decaimento da matéria.” 

– Ecuménico Fizsco; curso sobre "Matéria Amorosa". 

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