2-
-->
ASAD, Talal.
Genealogies of religion: discipline and
reasons of power in Christianity
and Islam. Johns Hopkins Press. Baltimore and
London. 1993.
GEERTZ, Clifford. The interpretation of cultures.
Basic Books. Nova York.
1973.
“The
essence of the principle of self-constitution is “consciousness”. That is, a
metaphysical concept of consciousness is essential for explaining how the many
fragments come to be construed as parts of single-identifying subjects. Yet if
we set aside the Hegelian concept of consciousness (the theological principal
starting from sense-certainty and culminating in Reason) and the Kantian
concept of the transcendental subject, which Hegel rewrote as consciousness, it
will have to be admitted that consciousness in the everyday psychological sense
(awareness, intent, and the giving of meaning to experiences) is inadequate to
account for agency. One does not have to subscribe to full-blown Freudianism to
see that instinctive reaction, the docile body, and the unconscious work, in
their different ways, more pervasively and continuously than consciousness does.
This is part of the reason why agent’s act is more (and less) than her
consciousness of it.”(Asad, 1993, 15)
Que seja
difícil acompanhar o debate a respeito das ações, especialmente porque com
relação ao mesmo se impõe a pauta da responsabilidade, isto é, a partir de
quando o ato efetivamente pertence exclusivamente àquele que o inicia? Quem
pergunta é Jacques Ellul elegera como fundamental acerca da carência de
responsabilidade em um sistema propriamente téchnicien
– e, talvez, repetindo Hans Jonas -, o ato consciente e de posse do autor como
moto contínuo da história não seja suficiente para compatibilizar os efeitos
com as forças do movimento. Não necessariamente “a estrutura das ações possíveis que são incluídas e excluídas são,
portanto independentes da consciência dos atores” (op.cit.:15-16). Ser
agente da própria história pode não ser necessariamente o que está em questão.
Sujeito e agente não estão implicados um no outro, não são planos
necessariamente coincidentes. Qualquer sugestão relativa ao grau de implicação
deve, antes de mais nada, conseguir identificar o que é que está em jogo.
A retórica
dos modelos de antropologia que Asad questiona, e que culminam no ataque a
Clifford Geertz está diretamente relacionado ao tema da modernização dos sentidos
que não parece atentar para a estrutura de duplo vínculo. Dito de outra forma,
da modernização da Índia, por exemplo, pouco espaço há para imaginar sobre a
indianização da modernidade ou mesmo uma leitura que reflita sobre a
indiferença possível com relação ao seu advento – o que não implica em negar o
advento, mas permitir que alguém lhe seja indiferente. Atento a este tipo de
desdobramento que tantos outros esforços de imaginação se fazem, como a
conversão indígena feita por jesuítas nas Américas segundo Michel de Certeau,
que pergunta: convertidos em quê? Coisa que ele, jesuíta, nunca soube
responder. É o mesmo tipo de disjunção potencial expressa na biografia de
Victor Turner, convertido do comunismo ao catolicismo pelos ndembu, valendo lembrar que até os anos
1970 não eram sequer vagamente cristãos – povo bantu. Converter sem saber no
quê; converter sem querer; conversão à forma da diversão que abre espaço para
uma história subalterna, termo que produz arrepios na sensibilidade
protagonista do exercício autoral.
Uma história
subalterna ainda que não como regra, mas como um outro modo à parte do
epicentro narrativo da história moderna que sugestivamente conta com o debate
de Said acerca do orientalismo como uma de suas frentes. Isto se dá simplesmente
porque a história a ser contada não necessariamente pode ser contada por si
mesmo, ou que o narrador seja sequer uma personagem relevante, salvo se por
redução sociológica. Seguramente que isto pode produzir efeitos indesejáveis de interpretação mas,
até o presente momento esta parece ser uma consequência inevitável. Mas no
conflito das interpretações e na tensão entre as formas de justificação que não
produzem acordo (ou contrato social), o que encontramos nas reflexões de Asad é
exatamente o ponto de desacordo onde a história diverge exatamente como
história por não contar com o mesmo enredo, gramática, personagens, predicação,
autores, trama e fábula; vindo a produzir diferenças cujo encontro forçado como
fora o colonial assume dimensões trágicas ainda que na apreensão na forma da
crônica pareça assumir-se cômica. É como naquilo que é a guerra em que cada
Cruzada conta com seu exército de Brancaleone que é importante compreender a
medida das diferenças, isto é, como elas se medem a partir das imposições do
contato e das requisições produzidas pelas diferenças entre si definindo o
horizonte limite da relação e, também, da convergência narrativa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário