segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Who am I, Jackie Chan? - II. Sobre a história subalterna.

 
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ASAD, Talal. Genealogies of religion: discipline and reasons of power in Christianity
and Islam. Johns Hopkins Press. Baltimore and London. 1993.
GEERTZ, Clifford. The interpretation of cultures. Basic Books. Nova York.
1973.

            The essence of the principle of self-constitution is “consciousness”. That is, a metaphysical concept of consciousness is essential for explaining how the many fragments come to be construed as parts of single-identifying subjects. Yet if we set aside the Hegelian concept of consciousness (the theological principal starting from sense-certainty and culminating in Reason) and the Kantian concept of the transcendental subject, which Hegel rewrote as consciousness, it will have to be admitted that consciousness in the everyday psychological sense (awareness, intent, and the giving of meaning to experiences) is inadequate to account for agency. One does not have to subscribe to full-blown Freudianism to see that instinctive reaction, the docile body, and the unconscious work, in their different ways, more pervasively and continuously than consciousness does. This is part of the reason why agent’s act is more (and less) than her consciousness of it.”(Asad, 1993, 15)

            Que seja difícil acompanhar o debate a respeito das ações, especialmente porque com relação ao mesmo se impõe a pauta da responsabilidade, isto é, a partir de quando o ato efetivamente pertence exclusivamente àquele que o inicia? Quem pergunta é Jacques Ellul elegera como fundamental acerca da carência de responsabilidade em um sistema propriamente téchnicien – e, talvez, repetindo Hans Jonas -, o ato consciente e de posse do autor como moto contínuo da história não seja suficiente para compatibilizar os efeitos com as forças do movimento. Não necessariamente “a estrutura das ações possíveis que são incluídas e excluídas são, portanto independentes da consciência dos atores” (op.cit.:15-16). Ser agente da própria história pode não ser necessariamente o que está em questão. Sujeito e agente não estão implicados um no outro, não são planos necessariamente coincidentes. Qualquer sugestão relativa ao grau de implicação deve, antes de mais nada, conseguir identificar o que é que está em jogo.
            A retórica dos modelos de antropologia que Asad questiona, e que culminam no ataque a Clifford Geertz está diretamente relacionado ao tema da modernização dos sentidos que não parece atentar para a estrutura de duplo vínculo. Dito de outra forma, da modernização da Índia, por exemplo, pouco espaço há para imaginar sobre a indianização da modernidade ou mesmo uma leitura que reflita sobre a indiferença possível com relação ao seu advento – o que não implica em negar o advento, mas permitir que alguém lhe seja indiferente. Atento a este tipo de desdobramento que tantos outros esforços de imaginação se fazem, como a conversão indígena feita por jesuítas nas Américas segundo Michel de Certeau, que pergunta: convertidos em quê? Coisa que ele, jesuíta, nunca soube responder. É o mesmo tipo de disjunção potencial expressa na biografia de Victor Turner, convertido do comunismo ao catolicismo  pelos ndembu, valendo lembrar que até os anos 1970 não eram sequer vagamente cristãos – povo bantu. Converter sem saber no quê; converter sem querer; conversão à forma da diversão que abre espaço para uma história subalterna, termo que produz arrepios na sensibilidade protagonista do exercício autoral.
            Uma história subalterna ainda que não como regra, mas como um outro modo à parte do epicentro narrativo da história moderna que sugestivamente conta com o debate de Said acerca do orientalismo como uma de suas frentes. Isto se dá simplesmente porque a história a ser contada não necessariamente pode ser contada por si mesmo, ou que o narrador seja sequer uma personagem relevante, salvo se por redução sociológica. Seguramente que isto pode produzir  efeitos indesejáveis de interpretação mas, até o presente momento esta parece ser uma consequência inevitável. Mas no conflito das interpretações e na tensão entre as formas de justificação que não produzem acordo (ou contrato social), o que encontramos nas reflexões de Asad é exatamente o ponto de desacordo onde a história diverge exatamente como história por não contar com o mesmo enredo, gramática, personagens, predicação, autores, trama e fábula; vindo a produzir diferenças cujo encontro forçado como fora o colonial assume dimensões trágicas ainda que na apreensão na forma da crônica pareça assumir-se cômica. É como naquilo que é a guerra em que cada Cruzada conta com seu exército de Brancaleone que é importante compreender a medida das diferenças, isto é, como elas se medem a partir das imposições do contato e das requisições produzidas pelas diferenças entre si definindo o horizonte limite da relação e, também, da convergência narrativa.

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