Antes Tarde do que nunca ou já foi Tarde, os sinais de uma pressa Tardia?
Antes de mais nada, e antes que seja Tarde, declaro que gosto, me interesso, tenho curiosidade voraz – embora hoje um tanto entorpecida – pela obra de Gabriel Tarde. Desde um pouquinho, só um pouquinho antes desta voga nacional (?) em torno dele. Vi uma edição portuguesa de Les lois de l´imitation (Rés) num sebo da Sete de Setembro, próximo ao Largo de São Francisco de Paula que quase me fez desfazer dos únicos 15 reais que tinha para o resto da semana.
(isso me lembra sempre uma piada ; havia uma obra de restauração na igreja do Largo e um dos pedreiros se desequilibrou e começou a cair do andaime de forma a evocar « Valei-me meu São Francisco ». Surpreendentemente uma mão luminosa lhe agarrou o punho e, num meio-salvamento, perguntou : « São Francisco de que ? DE QUE ? » ; apressado e indeciso o pedreiro gagueja até sua conclusão : « ... de... de... de Assis ? » no que foi largado por São Francisco de Paula ; daí o Largo de São Francisco...).
Queria ler aquilo por causa das minhas paixões; as falsificações, a mímesis, a modernidade, a ficção, a mentira, etc. Enfim, foi com alegria que recebi a notícia da tradução de Sociologia e Monadologia, e o Opinião e as massas já figura, há tempos, em minhas leituras em curso, sabe-se lá por quanto tempo. Mas há um peraí nessa história.
Antes de mais nada, e antes que seja Tarde, declaro que gosto, me interesso, tenho curiosidade voraz – embora hoje um tanto entorpecida – pela obra de Gabriel Tarde. Desde um pouquinho, só um pouquinho antes desta voga nacional (?) em torno dele. Vi uma edição portuguesa de Les lois de l´imitation (Rés) num sebo da Sete de Setembro, próximo ao Largo de São Francisco de Paula que quase me fez desfazer dos únicos 15 reais que tinha para o resto da semana.
(isso me lembra sempre uma piada ; havia uma obra de restauração na igreja do Largo e um dos pedreiros se desequilibrou e começou a cair do andaime de forma a evocar « Valei-me meu São Francisco ». Surpreendentemente uma mão luminosa lhe agarrou o punho e, num meio-salvamento, perguntou : « São Francisco de que ? DE QUE ? » ; apressado e indeciso o pedreiro gagueja até sua conclusão : « ... de... de... de Assis ? » no que foi largado por São Francisco de Paula ; daí o Largo de São Francisco...).
Queria ler aquilo por causa das minhas paixões; as falsificações, a mímesis, a modernidade, a ficção, a mentira, etc. Enfim, foi com alegria que recebi a notícia da tradução de Sociologia e Monadologia, e o Opinião e as massas já figura, há tempos, em minhas leituras em curso, sabe-se lá por quanto tempo. Mas há um peraí nessa história.
Há algo de desorientador na voga, no anti-Durkheim surgido nestes tempos puxado pelo cavalo Tardio. Uma coisa meio manca e chata, monocórdia sem ser qualquer iniciativa minimalista. Não que Durkheim seja uma figura acima de qualquer suspeita. Tal coisa não há. Vide o santo supracitado. E eu mesmo escrevi algumas coisas em dissensão com o founding father da sociologia antropológica, ou da sociologia francesa, ou da escola das Anées Sociologiques. Mas gostaria de um aparte.
Durkheim carrega hoje o peso de haver sugerido que seu conceito de sociedade faz apelo a uma arquitetura do transcendente, fazendo com que sejam coincidentes « Deus » e « sociedade ». Resumi algumas das passagens do projeto de conhecimento da sociologia em questão, a francesa, para um amigo muito querido meu. Sergio Pachá, filólogo e conhecedor de algumas das fontes teológicas da filosofia medieval, uma vez que é excepcional latinista. Foi ele, sem conhecer a fórmula Deus:Sociedade que ouvi inferir que há na sociologia um projeto teológico sem... Deus. Cabe perguntar, à moda da teologia, se a sociedade, caso assim queira – se é que vontade há – pode por este veículo refutar a si mesma e extinguir sua existência. Quem conhece um tantinho de teologia sabe do que estou falando. E este tipo de pergunta sugere coisa muito, mas muito sintomática.
A querela Tardia contra Durkheim é tardia. E só faz sentido quando o Estado é laico, tal como propagado num nível comunicativo em que o espaço público é composto por seres humanos (e não-humanos ; tá bom !) numa distribuição cósmica homogênea do ponto de vista político. O Estado laico faz as vezes de sociedade no esquemão de mediação das relações e do desejo pela ordem, coisinha kantiana que passeia pela paisagem. Todos os homens na cadeia dos seres, sendo este o enquadramento que precipita as fundamentações românticas sobre a singularidade, coisa desigualmente absorvida tanto por Durkheim quanto por Tarde. A querela, se posso dizer assim, só faz sentido quando o estado laico deixou de ser solução para se tornar um problema. E é neste nível que algumas das considerações Tardias são apressadas. Notem : apressadas, não erradas. Afinal, quem sou eu? E é deste problema, do Estado laico como um problema, que gostaria de seguir em novas considerações. Pretendo falar de algumas coisas que Richard Morse escreveu sobre a fundamentação tomista do Estado nas Américas e a dificuldade de discutir Tarde assim, com pressa quanto ao Brasil ; pretendo discutir a diferença (ai, a diferença!) dos modelos de desfazimento ulterior das fontes teocráticas dos aparelhos e dispositivos do Estado, movimento que começa a ocorrer com força na França, desde 1791 e como Durkheim e Tarde respondem a isso um século depois; pretendo discutir alguns dilemas dos aspectos teocráticos do patriarcalismo tutelar do Brasil, que nunca foi propriamente teocrático, dadas as lacunas da articulção política do Estado até pouco tempo atrás, e defender algumas das premissas das atividades do RESA, grupo danado de bom ao qual me ajuntei tardiamente. Com "t" minúsculo.
Mas agora não, que tá na hora de Chapolim. E depois tem Malhação.
[se o texto está um pouco legível é por responsabilidade de notas de correção de rumo do magnífico Sergio Pachá. Valeu, Sergio!]
Mas agora não, que tá na hora de Chapolim. E depois tem Malhação.
[se o texto está um pouco legível é por responsabilidade de notas de correção de rumo do magnífico Sergio Pachá. Valeu, Sergio!]
3 comentários:
Ok. Durkheim é um sociólogo renomado. Gabriel Tarde é outro. Pelo o que entendi, este último se opõe ao primeiro. E isto é "moda" no Brasil, só que antes disso você já se interessava por Tarde. Pelo jeito, o fato dele ser anti-Durkheim você discorda. É isso?
Olha, meu contato com a Sociologia foi muito superficial, eu diria até que superficial é ainda mais profundo do que o que tive. Mas achei interessante quando você falou das "lacunas das articulações políticas do Estado até pouco tempo atrás" e queria mais informações sobre isso.
Voltei neste blog umas três vezes antes de decidir comentar... Até agora não sei o motivo, mas gostei daqui.
Sarcasmo, ironia, palavras emaranhadas em significados complexos... Acho que tudo isso me trouxe de volta. Ler foi um desafio.
Acídia é uma palavra que eu não conhecia, isso foi importante também. E a piada do Largo de São Francisco... sem comentários! rs
Mas afinal, este estudo todo que você se propõe a fazer no campo da sociologia é O QUÊ? Projeto de um livro? Plano de aula? Artigo? Tese? Ou só mais uma brincadeira?
O vídeo da cabra tem um humor negro que percebi ser típico por aqui... Gostei. Adequar aquilo à sociologia é, no mínimo, curioso. Pagava pra ver.
E o seu perfil é realmente decepcionante, por isso é o mais criativo que vi até hoje.
Volto outro dia para conferir as novidades.
Um abraço,
Michelle
Michelle;
Se você não sabe o motivo de haver voltado, estamos iguais. Também não tenho muito idéia de porque volto aqui. Mas, ó!, nós nos encontrando!
Quanto ao texto que apresentei é mais um das dezenas de estudo que nunca avançam por causa das pesquisas "de verdade" que tenho que fazer. Mas neste caso, acho qeu levo adiante. Mas só por brincadeira.
Obrigado por ter dedicado um tempinho para deixar algumas marcas por aqui. É raro e dá um ar de companhia.
Só vale notar que o que escrevo muito dificilmente poderia ser chamado de sociologia. Talvez por isso seja tão difícil de ler.
Nos lemos por aí.
Abraço da Decepção Perfilada.
Todos os efeitos têm uma causa. Todos os efeitos inteligentes têm uma causa inteligente. Ainda não sei se isso é Allan Kardec ou Émile Durkheim.
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