sábado, 1 de maio de 2010

"Quando dois são um só?"

“O conteúdo lúcido desmaia aos poucos, desfazendo qualquer foco mais estreito e sem controvérsia. É assim que a fome começa a devorar – e a fome devora – algumas coisas que tiram o foco de si, e desfaz a lucidez em outra sorte de desejo, sem mira, quase sem olhos. Estes se convertem em pele e tato desfazendo a gana da contemplação mais robusta, vociferando na garganta, que são olhos também, todo tipo de contato viril, vil, anil. Ecoa no esôfago as formas indiscretas e vibráteis do sono das entranhas aos poucos despertas pelo movimento peristáltico que as anima. Com força. Deu fome. O corpo todo insútil vocifera gritando às partes numa rebeldia incontida, ou numa torcida descontrolada, num movimento de retomada das partes. Sem parte, o movimento de frenesi comuta e perde os dentes da boca já distribuídos na espinha dorsal que mastiga as dores nas costas das costelas neurais, fazendo fluir a circulação de saliva dos dedos do pé até um novo bombeio do ventrículo direito do pulmão esquerdo. E te ponho na boca, me ponho na boca, me adentro na devoragem súbita do tato longo e extenso, rogando por partes novamente antes que me dissolva todo. Ou mais ou menos isso.”

“Credo.”

Vestiu-se e tomou um copo d´água para, enfim, retornar somente após a novela e dormir.

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