FRAZER, James George. The
golden bough: the magic art (2/13 vol.). Macmillan. 1990 [1913].
STRATHERN, Marilyn. O
efeito etnográfico. Cosac & Naify. São Paulo. 2014.
5- O selvagem como filósofo é uma das
fórmulas mais recorrentes e presentes na longa discussão a respeito do estatuto da
mitologia, e da positividade dos mitos, para não dizermos sobre a proliferação
de mundos e pontos e vista que se enunciam como disciplinas de caráter etno,
este prefixo que segue exercendo o fascínio dos mundos derivados – música
étnica. Para além de discussões metodológicas que pedem para que se siga o
nativo (follow the native) de forma a levar a sério o que o nativo diz –
coisa que, creio, merece a cautela metodológica sugerida por Edmund Leach, a de
que há muito de meramente justificatório no ato de comunicação da alteridade-,
a dimensão excelente para a discussão do tópico philosophy of life parece ser melhor condensada no embaraço
metodológico da discussão proposta por Marshall Sahlins a respeito de como pensam os nativos. Contudo, ainda
que O ramo de ouro participe do
esforço moderno de contar a história da razão – que também desemboca mais
adiante na história do Ser -, ele adentra no universo das formas que mimetizam
formas com um volume e envolvimento particulares. A semelhança, antes de tudo,
acontece como tal e, num primeiro momento, é isso que importa. Talvez por isso,
ainda que tenha me utilizado do jargão de Marilyn Strathern – out of context – eu tenha me afastado
tanto daquilo que é matéria de discussão de seu ensaio sobre Frazer, para todos
os efeitos muito interessante mas, ao mesmo tempo, mais datado do que O ramo de outro parece ser – mais dedicado
em especular do que em acontecer.
A despeito disto, o ensaio de Marilyn
Strathern consegue produzir um efeito que é o mais interessante, que é quando a
imagem acontece – este um dos temas de tantos outros trabalhos dela, presentes
em coletâneas como Property, substance
and effects e O efeito etnográfico.
Em seu Out of context (Strathern,
2014) vemos como Frazer aos poucos se transforma em uma personagem estranha e
em como, paulatinamente, O ramo de ouro
devem um livro ilegível. Como um intelectual moderno à toda prova, ele foi
reduzido a um estilo e a uma forma de exercício de autoridade que, para além de
etnográfica, é propriamente colonial que, como bem sabemos, é onde a selvageria
realmente acontece. E Frazer, ilegível, se transformou em um selvagem. Não do
mesmo tipo que os botocudos desnudos ou as formas elementares warramunga, mas
daquele passado sombrio em que andávamos em hordas invadindo a vida e o
território alheio promovendo destruição em caos em nome das mais nobres
aspirações como o progresso da inteligência e moral humanas. Barbarismo.
Frentes de expansão do capital.
Convém perguntar se a negação de Frazer,
não como um passado distante mas como um presente que deve ser confrontado como
presença; e O ramo de ouro como um
livro de coisas que acontecem, com a licença de Daniel Pelizzari, não repete o
mesmo tipo de recalque que os intelectuais modernos conseguiram, com algum
sucesso, se desembaraçar. Como a parte hedionda que por fim coube à crítica
moralizar ao ponto de se transformar em algo insuportável, esta outra face do
ininteligível. Convém perguntar how
Frazer thinks. Por nenhuma razão de dignidade especial que não ele ser responsável por
um livro de coisas que acontecem:
“Before Cherokee braves went forth to
war the medicine-man used to give each man a small charmed root which made him
absolutely invulnerable. On the eve of battle the warrior bathed in a running
stream, chewed a portion of the root and spat the juice on his body in order
that the bullets might slide from his skin like drops of water. Some of my
readers perhaps doubt whether this really made the men bomb-proof. There is a
barren and paralyzing spirit of skepticism abroad at the present day which is
most deplorable. However, the efficacy of this particular charm was proved in
the Civil War, for three hundred Cherokees served in the army of the South; and
they were never, of hardly ever, wounded in action.” (Frazer, 1990:146-147).
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