TARDE, Gabriel. Les
lois de l’imitation. Les empêcheurs de penser en rond/Seuil. Paris. 2001.
12- A sociedade
como um grupo de pessoas que se entre-imitam e contra-imitam; a matéria como extensão mediadora com
propriedades ondulatórias específicas; e então, a estatística. Eis a ciência
com dotada de capacidades de “1º determinar a imitação potencial própria de
cada invenção em um tempo e país específicos; 2º, mostrar os efeitos favoráveis
e produtos alimentados pela imitação de cada um, e por conseguinte, de
influenciar aqueles que terão conhecimento destes números, segundo o pendor em
seguir ou não tal ou qual exemplo.”(Tarde, 2001:170). Uma caricatura feita algo
de improviso, trata-se de uma meteorologia intra-escalar em que é possível
escolher entre ser e sofrer a tempestade; entre inundar e ser inundado; entre
secar e ser seco. É possível, em tese, ser perigoso, evitar o perigo, ou
assumir certos riscos – neste caso, a única forma em que o risco de ser
perigoso diminui em alguma medida. De forma definitiva, constatar ou
influenciar as imitações, eis todo o objeto das pesquisas do gênero que,
todavia, participa do empreendimento de intuir o tempo futuro. E aqui o
paralelo entre arqueologia e a estatística feita por Tarde merece atenção, dado
que cada uma delas visa atingir o ponto em que tudo se transforma em
indistinção do ponto de vista da outra.
A
arqueologia, a mesma que oferece horizonte da antropologia de Tylor, busca o
detalhe individual da forma, um complexo restrito de um movimento morto que
somente ressoa por via de fragmentos, ou de um mesmo ou de vários objetos que
sugerem a relação invenção-imitação da enorme cadeia difusora do globo
terrestre. Ao chamar o perfil estatístico de curva hieroglífica, Tarde sugere que a relação do estatístico com a
curva derivada dos dados que descrevem o nexo invenção-imitação em um dado eixo
de espaço e tempo é da quem se relaciona com um dado arqueológico. As curvas
são “pitorescas e bizarras como o perfil
das montanhas” e, com maior frequência, “sinuosas e graciosas como as formas da vida” vindo a induzir àquele
que a decifra uma noção aproximada de tempo futuro.
“As linhas das quais trato são sempre ou
montantes, ou horizontais ou descendentes, ou bem, se são irregulares, sempre
se pode decompô-las da mesma maneira em três sortes de elementos lineares:
escarpados, platôs e declives. Foi a partir da escola de Quételet que o platô
serviria como estadia eminente do estatístico pois sua descoberta seria seu
triunfo mais belo, devendo ser sua aspiração constante. Nada mais adequado na
fundação da Física Social que a reprodução uniforme dos mesmos números, não
somente os de nascimento e casamentos, mas de crimes e processos durante um
período de tempo considerável. Daí a ilusão (dissipada, é verdade, depois, pela
derradeira estatística oficial sobre a criminalidade progressiva do último
meio-século) de pensar que os últimos números se reproduzirão efetivamente e
com uniformidade.”(Tarde, 2001:173)
Esta
reflexão, que não parece apontar para outra coisa senão para hábitos de
pensamento adquiridos pelo efeito tranquilizante de uma linha que aponta para o
futuro, recupera o caráter de erro de atribuição que tantas vezes já visitamos
aqui e que parece inescapável. No caso é a uniformidade do desenho, o platô que
não termina pois o limite da curva é o tempo presente, sugere na mente do
estatístico, que está procurando se haver com leis da regularidade, uma
constante elaborada na forma de tendência ou probabilidade acentuada. Mas este
não é outro senão o seu efeito, igualando a forma com o dado – mais uma vez,
produzindo uma zona, uma região de indiferença. Isto porque o artefato que
desenha a ordem numérica de propagação é ele mesmo um artefato de propagação e
um dado difusor da imagem.
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