Mediante os sustos que o jornalismo nacional oferece ao seu público leitor, especialmente aos seus entrevistados, achei que por bem e pela delicadeza do tema eu deveria oferecer este espaço tramado com tanto desleixo a uma amiga que ainda não conheço. Esta afirmação eu não vou explicar.
Karina Biondi é antropóloga, bacharel em Ciências Sociais pela USP e mestre em Antropologia Social pela UFSCar, onde cursa seu doutorado. Publicou trabalhos sobre a organização política do PCC (Primeiro Comando da Capital) e foi laureada com um prêmio de Direitos Humanos concedido pela Associação Brasileira de Antropologia e pela Fundação Ford em 2006. É dela a dissertação: “Junto e Misturado”, que consta na lista de materiais que estou lendo sem prazo de conclusão. De leitura. A publicação da entrevista neste blog lamentável serve de registro precavido diante das possibilidades de edição má fadada por parte do jornal responsável por sua elaboração e publicação - é o insondável futuro do corte da editoração. Eu, irresponsável, abro espaço para os chapas se defenderem e poderem, com rima, dizer que ‘não disseram aquilo que foi publicado’ e, ao mesmo tempo, mostrar o pau.
Esta iniciativa abre precedente. Mas só para quem for bacana, especialmente comigo. A coisa toda segue ipsis literis. Versa sobre os ataques do crime organizado em Salvador no feriadão do 07 de setembro neste 2009 cheio de voltas.
"1- Faça, por favor, uma contextualização do surgimento do PCC em SãoPaulo. Em que condições econômicas e sociais eles surgiram? Foi a partirde uma necessidade de organização do crime?
A maioria dos relatos informam que o PCC teria surgido no ano de 1993, no interior da Casa de Custória e Tratamento de Taubaté, conhecida como uma das mais rígidas instituições penitenciárias existentes à época. Dentre os motivos de seu nascimento, os prisioneiros dizem que esta foi uma forma de se protegerem contra os maus tratos que diziam sofrer da equipe de funcionários da instituição, mas também de evitar que acontecimentos como o Massacre do Carandiru voltasse a acontecer. Com o tempo, o PCC passou a regular as relações entre os prisioneiros e sua atuação transbordou os muros das prisões para cobrir as áreas urbanas do Estado de São Paulo.
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2- A ação do PCC se expandiu para outros estados e até além do Brasil? Aque se deu essa expansão? Com que objetivos?
Uma das medidas tomadas pelo poder público para combater o PCC foi a transferência para outros Estados brasileiros de prisioneiros que, à época, atuavam como lideranças. Esta medida parece ter tido um resultado inverso ao esperado, pois contribuiu para levar o PCC para fora de São Paulo. De fato, a proposta apresentada pelo PCC era sedutora: acabar com a "opressão" que os presos sofriam do Estado e regular as relações entre eles, evitando que tais "opressões" partissem deles próprios.
Não tenho notícias sobre sua atuação fora do Brasil, mas durante a mega-rebelião de 2006, das 84 instituições penitenciárias que se rebelaram, 10 estavam localizadas fora do Estado de São Paulo.
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3- O PCC, hoje, é uma referência para outras organizações criminosas? Porque?
Em São Paulo, o PCC está presente em mais de 90% das instituições penitenciárias e é hegemônico nas regiões urbanas. Existem, contudo, outros comandos que disputam espaço com o PCC e lutam contra essa hegemonia. Não tenho informações sobre organizações fora do Estado de São Paulo.
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4- Na Bahia, hoje, qual é a influência do PCC?
Os recentes acontecimentos em Salvador invocam à memória os "ataques de 2006" promovidos pelo PCC em São Paulo. Mas é apressado fazer essa relação direta. Seria necessária a realização de pesquisas acerca do crime na Bahia para poder oferecer qualquer informação esse sentido.
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5- O PCC, hoje, ainda tem a figura de um líder ou é uma organizaçãodescentralizada?
O PCC deixou de ter uma estrutura hierárquica piramidal centrada na figura de um líder. Mais do que descentrado, eu diria que estamos diante de um comando (que eu evito chamar de organização) a-centrado.
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6- faça uma apresentação sua (NOME, SOBRENOME, ESPECIALIZAÇÃO, ÁREA DE ATUAÇÃO, ETC);
Karina Biondi desenvolve pesquisa acerca do funcionamento do PCC desde 2004. Defendeu sua dissertação de mestrado em Antropologia Social pela Universidade Federal de São Carlos, e atualmente cursa doutorado. "
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É isso, moçada. Se sair certo, saiu. Se não, está aqui. Nada de mais. Espero que continue assim.
Esta foi mais uma intervenção urbana de Refrator de Curvelo, sempre pronto a atravessar à moda do Saci.