sábado, 27 de novembro de 2010

Da tortura como lição de história

Palestra proferida no Congreso, em atividade paralela do Conselho de Etnopsiquiatria do Desenvolvmento.

Por Paul Krüger Ramirez

Cinismo é uma palavra. Um cínico não é. A diferença entre um e outro abraça o poder do encantamento que, de uma outra forma é a definição própria do insulto. Do cinismo como ironia, ambas ferramentas que permitem inclinações variadas de deslocamento moral do sentido, é possível seguir para muitos pontos e mesmo para a estabilidade da ação como sentido possível. Este movimento se esvazia quando é toda a carne de um cínico que é desenhada, desenho que apaga o cinismo enquanto possibilidade. O cínico é a morte do cinismo – não estou falando de gregos áticos, mas daqueles cujo modo de vida é a simulação da caridade, da solidariedade ou qualquer outra sorte de responsabilidade.


É importante notar, e esta é a razão desta palestra, para este tipo de patologia da história, e é o único tipo que há. Para esta patologia a tortura física e psicológica figura como pedagogia e terapêutica possíveis – e mesmo desejáveis – ainda que sem efeitos permanentes salvo se perpretado algum tipo de trauma profundo. Este é então meu ponto de partida, é disso que vou falar, de nossos experimentos de ecologia clínica radical.(...)”

mais detalhes em http://www.konfusionistoperationen.org/

tradução de Refrator de Curvelo

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Esporo

"Tenho que. É mais ou menos isto. Tenho que."



No que se abaixou imediatamente, agaixado com vistas em entrar no armarinho debaixo da pia que, úmido e mofado fazia de sua entrada um ato emergente. Emergente. Um ciclo cujas forças promotoras fazem aparecer algo, precipitação, emergência, e ele lá embaixo entulhando as narinas com detalhes e empoeirados da cultura de fungos que se fazia. Entrou no exato momento em que a cultura fazia um ritual, festivo e cheio de odores já mencionados.






Permaneceram tempo demais sem contato, e o intruso veio para romper com a homeostase; coisas da emergência. Entrou no ciclo e as raspas de odor que lhe adentram pela narinas fizeram do ciclo ritual funghi uma alteração significativa, e o que fora somente comunicação sem resposta se transformou em resposta imediata. Mal sabiam que da interrupção da escuridão e do movimento celeste que precipitou em momento gigante culminaria em sua dissolução corrosiva e dolorosa. Cloro.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Mundão véio sem porteira

Família pula do terceiro andar para fugir do 'diabo'


Uma família de origem africana que estava assistindo a TV pulou pela janela de um apartamento no terceiro andar de prédio da cidade de La Verriere (França) com medo do "diabo". Na inusitada fuga, um bebê morreu.

Horas depois, a polícia esclareceu parcialmente o caso: o incidente começou quando um grupo de 13 pessoas estava assistindo a TV na sala. Um homem que estava nu no apartamento ouviu um bebê chorando e foi preparar a mamadeira. A esposa, ao ver o marido pelado, começou a gritar: "É o diabo, é o diabo!".

Em socorro aos gritos, a cunhada do "diabo" o esfaqueou em uma das mãos. Ele saiu pela porta da frente, e, quando retornou, os demais moradores, desesperados com a presença do "maligno" na residência, então decidiram sair pela janela.

O "diabo" pulou também, carregando uma criança de dois anos no colo. Ao chegar ao chão, ele correu e se escondeu atrás de um arbusto. A criança, o "capeta" e outros familiares ficaram feridos. O bebê chegou a ser levado a um hospital, mas não resistiu à queda.

Investigadores não encontraram qualquer sinal de alucinógenos ou ritual macabro no apartamento, segundo reportagem da BFM TV. A polícia ainda espera esclarecer muitos detalhes da história.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

PTao

Algumas coisas, certas pessoas, vários lugares resolveram se ajeitar - e com jeito, do jeito que dá. A Alemanha está, ao que parece, querendo voltar a ser Alemanha. E só Alemanha, diz Merkel segundo noticiário:(http://news.yahoo.com/s/afp/20101017/wl_afp/germanymuslimreligionimmigration).

Vi um slogan de presidenciável clamando enunciados em nome da verdade que, em pouco há de ser redigida com "V" maiúsculo e, sem mais, com "D". E se há letras em demasia, aprende-se com LGBT que passou da hora de sair do armário, numa era em que Homer Simpson é ícone pop do Vaticano. Por isso, porque está tudo mais claro, e as peças estão se arranjando, este modesto sítio opera agora como célula do PTao, que aceita inscrições com a clausula pétrea de que eu não quero saber quem é filiado. Afinal, é melhor não saber e, no caso, não fazer - a arte de fazer quando já feito, tao como manda a regra dos nove.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Paisagem de fronteira, isso sim

Como assim. Como assim?
E reduz-se assim o traço - rasgo, trait,
- logo acima do ponto final
e tudo muda. Exatamente assim.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

votar na era da técnica

Estou assistindo ao espetáculo do fingidor que é tal como poeta, finge a dor que deveras sente. Não imagino outra forma de oferecer contorno à triste figura das conversas que sou obrigado a assistir, e tampouco no espetáculo lamentável em que a vida nas praças toma a forma. Já houve o tempo em que defender os seus significava exatamente isto, em idos tempos coronéis, e tal. Fico imaginando qual a sorte de coronelato e compadrio empresta afinação para o atual coro acusador que toma forma a cada período eleitoral, só não menos irritante que os acusadores inconformados nos quais se tornam, os eleitores de um candidato vencedor. Até consinto na idéia de que alguém tem que governar, mas é inimaginável que pelas mesmas razões eu tenha que fingir que gosto disso. Até porque, se mestre na arte de fingir acabo por adoecer, viver a dor de não saber aquilo que deveras sabia. Enfim, o que preciso escrever é que quando são muitos os feiticeiros, a feitiçaria é arte fácil. Entenda como quiser.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Falha de São Paulo eliminada? Eliminado?

Daí que eu recuperei o texto de fechamento de forma a evidenciar o evento antes que nem mesmo se possa marcá-lo. Até porque, com as eleições, há muita gente que acha que sabe como o país funciona, qual é a marca de seu poder constituinte. Na verdade, meu medo é maior, mais abrangente, e não assina por nome de Dilma, Serra ou qualquer outro. Pior, meu medo ensinou a lermos o nomes dos candidatos citados. Por isso retomo o texto. Não por concordar, não por conhecer, mas por perceber que o grave do espaço público é que é plenamente possível, em plena era do voyeurismo, fazer quase tudo por debaixo dos panos. A melhor forma de esconder é deixar à vista.











Os responsáveis por este texto não foram notificados quanto ao teor desta publicação e não têm qualquer responsabilidade, e o que faço, faço sem qualquer consentimento.


Há duas semanas resolvemos fazer um site de humor destinado à crítica da cobertura jornalística, o Falha de S.Paulo (www.falhadespaulo.com.br), uma sátira ao jornal “Folha de S.Paulo”. É um site com críticas? Sim, claro. Tão duras quanto as feitas pelo CQC, Casseta & Planeta ou José Simão, por exemplo. Hoje recebemos uma decisão liminar (antecipação de tutela, concedida pela 29ª Vara Cível de SP) que nos obriga a tirar o site do ar, sob pena de multa diária de R$ 1.000. A desculpa utilizada pelo jornal para mover a ação foi o "uso indevido da marca" (tucanaram a censura).
É chocante a hipocrisia da Folha. Se isso não é censura e um atentado inaceitável à liberdade de expressão, juro que não sabemos o que é. Chega a ser cômico: o mesmo jornal que faz dezenas de editoriais acusando o governo de censura e bradando indignado por “liberdade de expressão” comete esse ato violento de censura. Ato este, aliás, bastante covarde: o maior jornal do país movimentou um enorme escritório de advocacia e o Poder Judiciário contra um pequeno site independente. É muita falta de humor, de esportividade, de respeito à democracia.
Senhores proprietários e advogados da Folha, podem ficar tranquilos. Todos ainda poderão ser satirizados, menos vocês. Todos merecem liberdade de imprensa, menos quem não é da sua turma. E, como ao contrário de vocês, respeitamos as instituições e a democracia, vamos cumprir a ordem judicial.
Parabéns, Folha! A censura imposta por vocês será cumprida.



Lino Ito Bocchini e Mario Ito Bocchini



Se a acusação procede, e se houve uso indevido de marca, é porque embora haja desvio denotativo da marca entre os dois veículos, ocorre coincidência conotativa.



Melhor sorte aos Bocchini da próxima vez.

Temas Contemporâneos da Antropologia Social I – pergunte ao Melanésio

Muito se debate sobre as possibilidades de haver categorias ou conceitos que operem como transculturais ou, segundo o jargão britânico, cross-cultural categories [1]. Por exemplo, se cultura é uma categoria aplicável entre-culturas, isto é, se faz sentido ir a uma outra cultura e falar sobre ela como se de fato a mesma fosse outra cultura. Mas é óbvio que sim. Mais ou menos. Até porque, mesmo que tenham, não implica que signifique a mesma coisa[2]. Tudo por causa da merda das weltanschauungen que fazem da variação dos valores como alternação de pontos de vista sobre o mundo equalizando a diversidade da doxa como possibilidades de léxico sobre o mundo em comum, o mundo natural. Não é preciso dizer que o epicentro articulador das variações é a formulação de base sobre o mundo natural, base esta que acerta o relógio segundo o meridiano de Greenwich.

Assim, há uma série de termos canônicos utilizados para formular comparações entre formas institucionais, as mesmas que ora e vez permitem que se diga “lá, uma cultura; ali, aquela sociedade”. Nesta de apontar o dedo e tecer considerações de teor comparativo, o problema: há palavras-chave que sirvam de régua e, mais, rua de mão-dupla? Dá pra ir e voltar quando o tema das perguntas é “sociedade”, “estética”, “cultura”? Tem uma forma muito didática de encenar este problema. Pergunte ao melanésio.






No Brasil, em especial o das redes de relacionamento on-line como Orkut , roda a seguinte expressão: nunca fiz amigos bebendo leite[3]. E aí, melanésio? Qu'est-ce que tu me dit?





[1]

O livro organizado por Tim Ingold, Key Debates in Social Anthropology, é um exemplo importante disso pois, além de todo o mais, é exemplo de jogos de salão d academia britânica. Matriushka, coisas do gênero.
[2]

É aí que entra no jogo as aspas de Manuela Carneiro da Cunha; Cultura com aspas, recém publicado (lembrando que ao escrever este texto me situo em 2010).
[3]

http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=1518354

EPÍGRAFE

"Nesta tese espero ter correspondido a um diálogo reproduzido num clichet do conto de Borges em que disse para eu mesmo, mais jovem:

CUT THE CRAP."

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Mais um dia inútil na Terra da Carochinha

Sabe-se que é difícil encontrar com Carochinha. Tantas são as que conta, os desvairios que sua boca promove que ela mesma virou matéria sonora daquelas difíceis de se acreditar. E como é terra de Carochinha, e ela mesma virou som, tal o desmazelo com o que se passou a ter ao dizer qualquer coisa, ou mesmo todas as coisas. Sua credibilidade de Carochinha contaminou aos poucos o verbo solto feito perdigoto. Afinal, em terra de Carochinha. Não se poderia dizer nada sem incorrer na mais completa falácia, tudo inacreditável, e de todas as formas. Percebeu-se também que as reuniões se transformaram em mero alvoroço, contaminando tudo o que se dizia na fórmula mais completa da perda de tempo, dado que impossível acolher a conversação. Houve quem tentou por escrito, mas invariavelmente alguém acabava por ler em voz alta uma ou outra passagem, ou mesmo uma mensagem inteira. Esta é minha última tentativa. Peço, por tudo o que restou de mais sagrado, que leia este parágrafo no mais profundo silêncio e não comente com ninguém.

sábado, 18 de setembro de 2010

Clássicos para a Juventude de Prima Antropologia

Da diferença entre franceses e ingleses, que pode ser sintetizada na relação entre Mauss e Malinowski. O primeiro, francês, leu tudo quanto há, inclusive o que o segundo escreveu; promoveu um esboço de uma teoria geral sistemático da explicação de um monte de coisas a partir das investigações do outro sujeito, o mesmo Malinowslki que o agradecera num livro sobre Crime e costume na sociedade primitiva a boa leitura. Agradecimento de amigo.

Malinowski, por sua vez, é polonês.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

‎"O negócio é o seguinte. Somos independentes. Queremos saber se você é, quero dizer, se você está ou não está conosco."


Não resisti. Respondi:


"Depende."


(obrigado, Luís Felipe)

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Short guy, short time: o tamanho do campo de trabalho e do trabalho de campo.

(sim, é sobre antropologia.)




I - O futuro de um ofício. É sobre isso que pretendo escrever, ainda que sendo um tanto incisivo, uma vez que diz respeito ao que pratico, do qual tiro meu sustento e que, imagino, traz consigo componentes éticos e epistemológicos nada desprezíveis, ainda que constantemente desprezados. Reagir à pergunta “how short can a fieldwork be?[1]”. Este é o desafio imposto, não pela hierarquia entre o corpo docente e o corpo discente (este é um trabalho escolar), mas porque se trata de um desenho, da caracterização – ou caricaturização – do ofício do etnógrafo. A pergunta é proposta por George Marcus, antropólogo com uma trajetória mais profícua do que posso medir, e que vou me permitir tratá-lo, em última estância como escritor de um só artigo, a saber, aquele que traz a pergunta acima como título. Permito, contudo, fazer um aparte. Em inglês, short é sinônimo de pouca extensão ou intervalo, equivalente ao delta das fórmulas de dinâmica em física, podendo ser aplicado a alguém de pouca estatura ou mesmo a uma distância pequena. Short time, short person, too many things.
Tal como ele mesmo sugere, Marcus se sente incomodado com o que chama de ideais regulativos da pesquisa de campo, de matriz malinowskiana, e se ampara em James Faubion para sugerir uma reforma na cultura profissional da antropologia. Em outras palavras, sugere conceitos que façam da etnografia algo mais plástico, suscetível a manipulações do tipo “collaboratories”, tal como proposto no sítio do centro de pesquisas que dirige. Está pensando em uma antropologia mais adequada para o nosso tempo – e o pronome é uma adição minha, mas em se tratando de antropologia posso me incluir sem pedir permissão, a esta altura. Acredito que, pelo tom de minha escrita, o que tenho a escrever não é movido por simpatia. O que segue então deixa isso claro. Pergunto-me o que uma coisa tem a ver com a outra? O que o legado malinowskiano tem a ver com a abertura da disciplina para uma zona de maleabilidade maior? No que implica esta maleabilidade? Independentemente se eu vier a pensar no legado da pesquisa de campo como exatamente a rearticulação de problemas em novas situações de pesquisa – não fora escolha ou projeto de Malinowski ficar tanto tempo na Nova Guiné, já que havia uma Grande Guerra acontecendo -, creio ser um ato de honestidade seguir Marcus onde ele mesmo vai. Vou seguir o conselho que Marcus ofereceu outrora.
Mesmo que dizendo que não, e de fato o diz, o que permite ocorrer como desdobramento do artigo é o abandono de prerrogativas que conferem à pesquisa de campo em antropologia sua característica, que Marcus chama de professional culture of craft. Permito-me traduzir a partir da noção de artesanato. Segundo razões que Marcus deixa claro mais adiante, e pretendo chegar à elas, é tempo de rever o superlativo do autoral nas práticas artesanais do trabalho etnográfico e nos entregar a novas necessidades relativas a um colaboracionismo mais intenso que, de qualquer forma já configuram as práticas mais individualizadas do ofício. Afinal, no man is an island. Mas aos poucos chegamos ao ponto.
Uma das citações do trabalho de Fabian faz a conexão entre as agências de fomento, a inércia que lhes caracteriza e uma certa noção do campo do trabalho do antropólogo no futuro. Não quero reiterar minha antipatia, mas tenho dificuldades em definir o estado de arte presente, até porque são muitos os envolvidos fazendo coisas muito diferentes entre si. Inclusive pesquisas consideradas ultrapassadas por tantos, como as de genética de populações, nutrição e perfil bélico, e mesmo trabalhos de campo intensivos e extensos – alguns deles defendidos no último ano no mesmo Programa de Pós-Graduação para o qual escrevo este mal fadado ensaio. Assim, qual futuro é este, legislado com tamanha fluidez? Não sei. O que emerge do artigo em questão é uma concepção, que considera nova, na qual a seqüência de trabalhos em geral considerados como o retorno repetido a uma mesma localidade com vistas na repetição seqüencial tenha sua seqüencialidade redefinida em outros termos. Não mais na visita repetida, mas nos passos dados para seguir o nativo, literalmente. Pé-ante-pé. Talvez por algumas horas? Quem sabe? Se posto em uma caricatura, é muito semelhante a algo que, aos poucos se transforma numa anedota contada a meia-boca em conversas debochadas, que se convencionou chamar de antropologia da passagem, que faz remissão a um artigo de um antropólogo prestigiado da paisagem nacional. Obviamente esta caricatura não faz justiça ao projeto de Marcus, mas o mesmo me parece servir para a cultura artesanal da profissão que ele monta como fantoche, os case bounded projects of fieldwork.
Ao dissertar desta maneira poderia ser dito que sou um etnólogo dos mais caxias, dedicado à pesquisa extensa de uma mesma população, fazendo da minha vida o balanço etnográfico de duas, três gerações aldeãs em algum lugar do Alto Rio Negro. Não é bem isso. Na verdade, nada disso. Mas ainda assim, como fantoche eu aceitaria a provocação. Até porque não acredito que o problema fundamental do artigo de Marcus esteja aí. Nada do que foi sugerido considero particularmente grave, não a ponto de querer me posicionar publicamente contra ou a favor, mesmo que já o tenha feito. O que é peculiar é que todo o esforço deste artigo é a defesa do que ele chama de incompleteness. Incompletude. Em outras palavras, Marcus diz que deveríamos deixar de considerar uma etnografia que mantém aberturas próprias de um trabalho inconcluso como a virtude própria do ofício etnográfico de forma que o modelo à forma de um collaboratorie possa surtir efeito, levando à cabo as propriedades do esforço coletivo que a etnografia logo é. Incompletude como norma de prática, toda a linha de produção da etnografia, desde o projeto. Se incompletude pode operar como norma prática, se faz referência a um trabalho incompleto, o que é uma etnografia completa, acabada? A de Malinowski, que voltou algumas vezes à campo? Toda vez em que ouço algo sobre fragmentação, lembro da unidade rompida que, ainda rompida, opera nem que por utopia. Incompletude, a mesma coisa. Diria que se ocorreu de se eleger um fantoche para formular um contraste, George Marcus montou um fantoche ruim. Transformou Malinowski e sua obra na “obra completa”. Sabiamente, em outro campo, Carlos Drummond de Andrade viu sua antologia ser publicada após suas obras completas. Fazendo menção à antologia, disse: “dos males, o menor”.

Entendo que a figura, e mesmo a defesa que o antropólogo anglo-polonês fazia da etnografia de longo escopo tenha se desdobrado em um sem-número de constrangimentos aos pesquisadores heterodoxos. Como eu, inclusive. Mas acredito firmemente que se os trabalhos de campo podem ser menores que o previsto, Malinowski pode ser perfeitamente a little bit of a short man. For a short time, at least.

II – fico devendo a continuação.

[1] MARCUS, George and OKELY, Judith: Debate Section. (George E. Marcus) “How short can fieldwork be?” Social Anthropology/Anthropologie Sociale (2007) 15, 3, 353-367. 2007. European Association of Social Anthropologists.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Hjman. segundo capítulo.

Expulsion of Roma Raises Questions in France

Mihai Lingurar, 37, a native of Romania, was ordered to leave France within a month for overstaying his alloted time. His wife was also ordered to leave.

By STEVEN ERLANGER
Published: August 19, 2010
LA COURNEUVE, France — About 100 French riot police officers swooped down on an encampment of Roma here at 7 a.m. Thursday, taking names and filling out expulsion orders. Fully padded, but without helmets, the officers were aggressive but polite, accompanied by a Romanian policeman and three interpreters.
Mihai Lingurar, 37, and his wife, Rada-Soma Rostach, were ordered to leave France within a month for overstaying their three-month allowance as Romanian citizens and being unable to prove that they had full-time work. Their fourth child, however, Marc, 5 months old, is in intensive care at a hospital here, on the northeastern edge of Paris. Marc weighs about eight pounds and has been in and out of a coma.
The police were not interested in hearing about Marc this morning, Mr. Lingurar said, through an interpreter. But he will get help to challenge the family’s expulsion, citing medical grounds, from Doctors of the World, said Livia Otal, 29, a Romanian who works with the Roma for the nonprofit organization.
The Lingurar family, along with many of the Roma — who are sometimes referred to as Gypsies, though they dislike the name — have been caught up in a major push by the government of President Nicolas Sarkozy to crack down on crime and illegal immigration. At the end of last month, after two attacks on the police, Mr. Sarkozy vowed to take away French citizenship from anyone who threatened the life of a public official and to dismantle illegal camps of Roma, most of them from Romania and Bulgaria. Mr. Sarkozy also vowed to break up the illegal camps of “gens du voyage,” known as travelers in Britain, who are French citizens moving about the country in caravans.
On Thursday, France flew some 100 Roma home to Romania — people who France insists agreed to leave voluntarily for a flight and a resettlement sum of about $385 instead of facing the chance of forcible expulsion in a month. Robert A. Kushen, executive director of the Budapest-based European Roma Rights Centre, said that by providing this essentially false choice, “the French are trying to insulate themselves from legal challenge, arguing that those who leave are doing so voluntarily and are not being expelled as a group.”
Mass expulsions based on ethnicity violate European Union law, Mr. Kushen said, and the failure of France to do individual assessments of each case — as opposed to cursory examinations of papers by the police — also violates European Union rules.
The new campaign has been roundly criticized as political, an effort by Mr. Sarkozy to revive his support on the right of the French political spectrum. The campaign has also been attacked as racist, focusing on ethnic or racial groups rather than individual criminals. The government rejects the criticism as misguided and utopian and says it is trying to fight crime and preserve public order.
But both the Sarkozy campaign and the attacks on it have sometimes confused juvenile delinquents in the poor suburbs, many of them Muslim, with the Roma, who are not French, and the French travelers, who have the right to stay in their own country. French law requires municipalities to provide space for the gens du voyage to park and hook up to electricity and water. But the mayors have been reluctant, and the government admits it has provided space to less than half of the travelers, and many of them have set up illegal camps.
France says it expelled 10,000 Roma last year — two-thirds of the estimated Roma population of France — without all this publicity. But the Roma have been skilled at returning to Romania and Bulgaria, where they say they face worse discrimination and poverty, and then slipping back into France, where, under European Union rules, they can enter without a visa.
Olivier Bernard, a pediatrician who is president of Doctors of the World in France, said that the issue was being blown out of proportion. He said that the Roma did not present a major problem, given their small numbers, and that the expulsion campaign had been going on for a few years.
It is one thing to throw them out for overstaying, he said. “But the person can come back, the next day, completely legally,” he said. What has changed, he said, is the aggressiveness and frequency of the camp clearings.
As citizens of states that recently joined the European Union, Romanians and Bulgarians are treated differently by law for a transitional period, and it is difficult for them to get work permits, Mr. Kushen said. Those legal restrictions should disappear by 2014.
France’s struggles reflect the difficulties all European countries have with their nomadic populations, Dr. Bernard said.
Italy has had prominent expulsions of Roma as “security threats” for the last two years; Sweden expelled some 50 of them last spring; Denmark is expelling them; and Germany is trying to repatriate Roma refugees to Kosovo. The latter were driven out by the Kosovar Albanians, who accused them of collaborating with the Serbs in the civil war in 1999.
Here in La Courneuve, some of the Roma have escaped expulsion. There was a rumor that the police were coming, and a population of 200 quickly dwindled to about 70. Since Monday, some of the Roma here, near the regional railway tracks, living in jerry-built shacks, have been leaving at 3 a.m. to wander the streets of La Courneuve and escape any raids.
Mr. Lingurar’s brother, Ioan Lingurar, 39, escaped the expulsion. While he has been in France for almost eight years, he could show the police a bus ticket from Romania dated less than three months ago.
Ioan Lingurar’s son-in-law, Alin Grumeza, 20, has been here for more than 10 years. Work is on the black market, when there is any. “We live by collecting what other people throw away,” Mr. Grumeza said. The Roma take abandoned refrigerators and stoves to sell as scrap metal, and repair junked televisions and computers, which they sell to Africans here, who then export them to Africa. The Roma pool money to buy gasoline for generators and use municipal bathhouses.
Ioan Lingurar has built many of the shacks here, as well as a chapel for the Salem Foundation Faith Church, where 70 Roma babies have been baptized in the last three months. “God will protect us, even from Sarkozy,” he said.
Scott Sayare contributed reporting.

Se Nômades Voltam para Casa

Sarkozy ignora críticas e começará a deportar ciganos na quinta-feira

Qua, 18 Ago, 10h55

Paris, 18 ago (EFE).- O Governo francês está cumprindo rigorosamente as ordens do presidente Nicolas Sarkozy de desmantelar acampamentos ilegais de ciganos e, apesar das críticas dentro e fora da França, começará a deportá-los a partir de quinta-feira.

Um primeiro avião com 79 ciganos a bordo partirá amanhã para a Romênia e será seguido por outros dois - um no dia 26 e outro "no fim de setembro"-, até completar a cota de pelo menos 700 pessoas deportadas, anunciou o ministro de Interior francês, Brice Hortefeux.

Ele é o responsável por dirigir a ofensiva contra o coletivo, lançada no dia 28 de julho por Sarkozy, quando anunciou o desmantelamento da metade dos acampamentos ilegais de ciganos no país em um prazo de três meses.

Menos de um mês depois, mais de 50 instalações deste tipo já foram desmanchadas.

Agora começarão as deportações, ou "retorno voluntário", como disse o ministro de Imigração Éric Besson, em declarações publicadas hoje pelo jornal "Le Parisien", nas quais ressalta que não se pode falar em expulsões.

O jornal cita uma fonte oficial, segundo a qual "há voos como estes regularmente", com estrangeiros que se inscrevem no programa de ajudas para o retorno.

Segundo o Governo, são deportações "voluntárias" de imigrantes que aceitam ir embora em troca de um bilhete de avião e 300 euros por adulto ou 100 euros por criança, e que, em muitos casos, acabam voltando para a França.

A partir de setembro, o Governo reforçará o controle de registros dos beneficiados, para que não sejam feitas falsificações de identidades para receber as ajudas duas vezes. Para isso, além dos dados pessoais, serão registradas as suas impressões digitais das pessoas.

Apenas em 2009, segundo números divulgados pelas autoridades francesas, cerca de 10 mil romenos e búlgaros receberam as ajudas e retornaram a seus países.
Segundo Besson, a França não está perseguindo os ciganos, está apenas lidando com casos de imigração irregular.

Além das deportações, foram apresentadas outras iniciativas polêmicas, como a retirada da nacionalidade francesa de criminosos de origem estrangeira que tenham atentado contra uma autoridade pública ou a condenação dos pais de jovens que tenham cometido crimes.

São propostas que geraram uma onda de críticas, não só entre a sociedade civil ou os partidos de esquerda, que falam de "racismo" e "xenofobia", mas também entre a maioria de direita e, cada vez mais, no exterior.

O Comitê para a Eliminação da Discriminação Racial das Nações Unidas também se somou às críticas hoje, ao denunciar a França por vincular imigração com insegurança. Hoje, os Governos de Romênia e Bulgária deixaram claro seu mal-estar diante da política da França sobre seus cidadãos.

Embora ambos sejam países-membros da União Europeia (UE) desde 2007, alguns de seus vizinhos aplicaram uma moratória sobre a plena liberdade de circulação de seus cidadãos pelo espaço comum, que, no caso da França, está vigente até o final de 2011.

Até então, romenos e búlgaros têm direito à livre circulação em território francês como qualquer outro cidadão europeu, mas não podem ficar mais de três meses se não tiverem uma licença de residência que, por sua vez, só é conseguida com um visto de trabalho.

Por isso, alguns dirigentes políticos, como o ex-primeiro-ministro francês e membro do partido de Sarkozy Alain Juppé ou o líder dos Verdes no Parlamento Europeu, Daniel Cohn-Bendit, propõem a busca de soluções em nível europeu. EFE

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Coleção Poema Traduzido

Nos dias de dor,
e de trabalho que é tortura, ou ao menos em uma forma torta de latim,
é que tenho mais coluna.
Muito mais vértebras desdobram, muito mais muito menos ereto.

E não, ela não soa como flauta.
E se soasse seria só o vibrar insútil do quase berro
que hora e vez transborda
dos lábios apressados de um sujeito que toca Aqualung, o Fulano de Tull
sem ouvir nota alguma.
Só se faz ranger a compressão dos ossos em meio ao oco da cartilagem gasta.

Ou

era de abrir a porteira no fim do dia.
no fim do dia.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Macedónio Fernandez Primero; después seguimos abajo el suelo

A geografia de Macedónio é imprecisa e mentirosa. E como tal, e por isso mesmo, é tão precisa quanto as demais. Ou menos. Por exemplo, sua defesa inflamada de uma metafísica prática é insustentável tanto quanto desejável fazendo ao mesmo tempo a elevação a posição prática geral; e junto, a metafísica como um tipo de escudo pelo qual se desnuda a situação de poder viver sem Deus (en caso de seer sin religión) como também sem necessitar ser Deus – metafísica plena, metafísica plana. Macedónio é esquisito e escreve numa Argentina que abriu o século XX como toda-poderosa, cheia de guériguéri, monumental. Sua Crítica del Dolor – eudemonología é um esforço singular, um reclame por atenção. Não sede soberbo, argentino, em especial em tempos de pujança.

Estamos olvidados de que si no la miséria, la estrechez más o menos disimulada y continua y el trabajo rudo es la ley en el noventa por ciento de los hogares en toda la Tierra excepto en períodos locales muy prósperos.

No caso, a Argentina, a aldeia na qual estuda metafísica prática.

Solemos creer que los privilégios propios de la Argentina consistentes em la riqueza de su suelo, ausência de gérmenes étnicos y en cierta medida económico-sociales de conflito y ruina, salubridad en sus circuntancias físicas, benignidad de clima, son extraordinariamente prominentes. Yo declaro que en mi opinión son en conjunto superiores a los de Estados Unidos, Canadá, Australia, Trasvaal, Bélgica y algunos otros países que en la hora actual pueden reconocerse comolas agrupaciones nacionales más favorablemente dotadas por ventajas físicas, étnicas, sociales, y a pesar de poner tan alto a mi patria creo que en un parangón hedónico, es decir, comparando el bienestar y malestar substancial, subjetivo, las diferencias entre las nacionalidades son insignificantes, como son insignificantes las diferencias reales de sufrimento y goce entre los diversos individuos cualesquiera sean las variedades de condición, educación, carácter, poder mental, etcétera, etcétera.
Sea como fuere creo que la crítica del dolor como dirección teórica sistemática, precisa – a nadie habíasele ocurrido hasta ahora que era un problema especial deslindable y que debía deslindarse, extraviado el problema entre esos tejidos de vaguedades con que se componen los libros sobre la Felicidad – es un examen y preparación cuya necesidad todo individuo siente mil veces en las vicisitudes de su carrera hedónica, y opino que tal como la propongo hará que la lectura de estas páginas sea efecto más bien tónico que depresivo, con mejora casi imperceptible pero general en la “actitud” voluntaria.

Talvez surta mais efeito na abundância ler sobre a abundância vizinh@ (e uso arroba para manter a ambigüidade; vocês sabem o que quero dizer com isso) que recorrer a um alemão que já havia formulado os mesmos problemas, o que Macedônio não ignorava. Mas fico com o argentino. Afinal, o español é quase um português. Granada e Gilberto Freyre não me deixam mentir.

Em outras palavras, faz muito sentido a Crítica del dolor quando lida em ano eleitoral, especialmente quando o ano é 2010, quando todos os valores substanciais são subterrâneos. Literalmente.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Granada, cegueira y dolor: segueira

Fui-me e voltei-me para quem hora e vez veio sentar-se ao meu lado, ainda que com dois ou três corpos de distância. Fui-me várias vezes ao voltar-me com a fronteira espinhosa, farpada mesmo que se armava nos lados de fora e ao voltar-me, seguia adiante. E isso é coisa sintomática, voltar-se para seguir. É forma precisa de o caminho virar do avesso, fazer das peles o intestino e por as fezes adornando a face aguda que contorna a nova boca da carne repuxada. É feio de falar e não dispões de muita visibilidade. Nem grotesco parece ser, sendo muito mais o sinal claro de atropelamento. Mas é como ao ir, se vai por voltar-se para lá, para o lado, ainda que à frente. Voltei-me para Granada, por exemplo, ainda que estando por lá pela primeira vez. Nunca havia, nem se por hipótese, eleito qualquer direção para a qual punha meu rosto mirado de forma a refletir “volto meu rosto para Granada”. Quase não existia para mim, esta cidade cuja Al-hambra povoa muitos dos meus sonhos de arquitetura, que desenha muito claramente vários sentidos do poder sentido. Afinal, o que é fazer Al-hambra, erguer o Palácio Nazaríes e mais o ajuntamento de torres, pedra-a-desenho? Quanta gente em torno de tão pouca gente, figura máxima da aristocracia? E mais, como é possível que tenha voltado-me para Granada quando fora ainda a primeira vez?

* * *

Duas idéias ruins, antes e durante Granada. Ler a Crítica del dolor de Macedónio Fernandez e perceber que ser roubado não é exatamente isso, ou não necessariamente. Para tal não basta ter. Pode ser indispensável dispor à desapropriação. Num roubo alguém pode ceder. E aí seguem sua vida adulta uns 30Euros numa situação que, não fosse o crédito improvável de uma velha cega de um olho com galhinhos de alecrim-robusto... Bom, deveria ter advinhado que os primeiros 10Euros do montante não voltariam uma vez que amassados na mão direita que apertava aquela bolsinha decerto infame, vermelhosa e inadequada. Ninguém que amassa uma cédula está disposta a devolvê-la. Mas que não se assome à idéia de que eu perdi dinheiro assim, tão simplesmente – não foi somente ingenuidade. Repito. Não foi somente ingenuidade, assim como nenhuma idéia, revestida de sua persistência improvável é só uma idéia. Perder dinheiro é algo que todo viajante deve estar disposto a fazê-lo, ainda que não o tenha. Deve estar disposto ainda que diante de uma prática tão velha e cegueta quanto a eficácia quiromântica cujo efeito que promove, na pior das hipóteses, não é o medo. Ao menos, não o medo da cegueira ou da quiromântica. En Granada el medo fue Del Alrededor. Perder o dinheiro, só a raiva assume o controle de algo.O pior contudo, foi ouvir sua péssima leitura de minha vida amorosa e eu então não ter respondido como deveria, encarnando o esprit d´escalier. Não disse: mentirosa estúpida. Uma loira, uma morena, ambas altas, um amor tórrido, e sequer uma palavra sobre uma certa nissei casada comigo há doze anos – me narrou como um moleque querendo foder na Espanha. Nada mais decepcionante que a decepção mística.
Mentirosa estúpida. Parece que fiquei doente só para conhecê-la, passei na febre uma sorte de crítica del dolor.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Mais uma da minha Mulher-Maravilha

http://naogostodeplagio.blogspot.com/2010/06/pela-reforma-da-lda-ii.html#comment-form

Ainda mexo nesse vespeiro. Mas é bom saber que, enquanto não consigo, alguém munido com braceletes de prata à prova de balas o faz. Não posso esquecer do laço-mágico que num nozinho só faz a malandragem abrir o bico na verdade.

URRA! E DE AVIÃO INVISÍVEL!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Quorum

My done is did
exactly as required
as pleased
as hopefully showed,


in a gross factory-made of friendship wine



just waiting for the core.


segunda-feira, 31 de maio de 2010

Na falta de um perfil meu, fizeram um pra mim.

O Refrator, se pudesse,
dizia não à respiração


Mas, como não há jeito,
de cara azeda, ele prescinde do limão

E dá a língua pro Bourdieu,
as costas pro nosso passado anão

Come farinha de Euclydes El Corno com Machado,
deixaria até Drummond morrer sem pão

Das chamas do apocalipse só salvaria
Sua mulher, dois amigos, Vian, Django, um cão










(quase chorei com a homenagem. Lindo, caro AM. Lindo. Mas Euclydes El Corno é duca. Não entendi sua presença na fila. Questão de métrica?)

DON´T BE SHY. I DO IT ALL THE TIME.

Só para evitar os apagões de comentários e minha profunda solidariedade com quem se sugere para uma conversa, nem que seja por via de um deslize.








(nem foi tão grande assim, né?)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

O caminho do dente, caminho doente, caminho do ente.

Chère Lévi-Strauss;

J´ai lit son livre, la dernière mitologique. Il me fait venir dans ma tète le suivant :

UN HOMME TOUT NU MARCHANT

Um homme tout nu marchant
L´habit à la main
L´habit à la main
C´est peut-être pas malin
Mais ça me fait rire
L´habit à la main
L´habit à la main
Ah ah ah ah ah ah
Un homme tout nu
Un homme tout nu
Qui marchait sur le chemim
Le costume à la main

Je t´ambrasse.


Boris Vian, lequel arranché comme une dent et que te rencontre maintenant.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

[Enquanto isso, na Sala da Justiça...]








Pois que se espera o Reino após o Juízo Final,

ou a acese de todas as classes após a Revolução;

ou a Nova Crítica após o cinismo pós-moderno.


E assim meio à Heidegger, meio à la carte,

enquanto isso, isto.















Os super-heróis se movem no movimento do movimento.




quarta-feira, 12 de maio de 2010

Para quem "caiu no peixe é rede"*


ONG faz coleta de cabelo para limpeza de praias no Golfo do México



Publicada em 11/05/2010 às 10h00m - O Globo





RIO - Salões de cabeleireiro e fazendeiros do mundo inteiro estão recolhendo cabelo e pelos de animais para auxiliar a operação de limpeza do petróleo que, há vários dias, vaza de um poço danificado no Golfo do México. A ideia é que o cabelo, colocado dentro de meias de náilon, absorva o óleo espesso que se aproxima das praias dos Estados vizinhos ao local do vazamento - Louisiana, Mississippi, Alabama e Flórida.
Petroleira estima que gastará mais de US$ 350 milhões para limpar mancha de óleo no Golfo do México
Infográfico: Entenda a ameaça do óleo ao ecossistema
Cerca de 370 mil salões estão participando, segundo a entidade beneficente que lidera a campanha de arrecadação de cabelo, Matter of Trust.
O Brasil também está contribuindo com doações, coordenadas a partir de uma página no site de relacionamentos Facebook.
Segundo a Matter of Trust, sediada em San Francisco, na Califórnia, por volta de 200 mil quilos de cabelo e pelos estão chegando todos os dias.
Em entrevista à BBC, a co-fundadora da entidade, Lisa Gautier, disse que o cabelo é um material extremamente eficiente na absorção de todos os tipos de óleo, incluindo o petróleo.
Ela explicou que cada folículo tem grande área de superfície, à qual o óleo adere.
Voluntários estão colocando o cabelo dentro das meias em 15 armazéns nas regiões próximas ao desastre, criando imensas "salsichas de cabelo", disse Gautier.
As meias serão colocadas nas praias - não no mar - para absorver o óleo que chegar à areia.
A técnica tem a aprovação da empresa Applied Fabric Technologies, segundo maior fabricante de utensílios para a absorção de petróleo no mundo, informou a Matter of Trust.
Além do Brasil e Estados Unidos, países como França, Inglaterra, Espanha, Austrália e Canadá também estão fazendo doações, disse Gautier.
Segundo ela, a página da entidade no Facebook vem sendo atualizada constantemente com notícias de novos carregamentos.
E mais voluntários estão se disponibilizando a toda hora.
Criadores de carneiro e alpaca também estão participando, disse a entidade.
Por volta de cinco mil barris ( mais de 950 mil litros) de petróleo estão vazando diariamente no Golfo do México desde a explosão, no dia 20 de abril, no poço administrado pela empresa britânica BP, British Petroleum.





quinta-feira, 6 de maio de 2010

Eita, vambora que tá Tarde!

Antes Tarde do que nunca ou já foi Tarde, os sinais de uma pressa Tardia?

Antes de mais nada, e antes que seja Tarde, declaro que gosto, me interesso, tenho curiosidade voraz – embora hoje um tanto entorpecida – pela obra de Gabriel Tarde. Desde um pouquinho, só um pouquinho antes desta voga nacional (?) em torno dele. Vi uma edição portuguesa de Les lois de l´imitation (Rés) num sebo da Sete de Setembro, próximo ao Largo de São Francisco de Paula que quase me fez desfazer dos únicos 15 reais que tinha para o resto da semana.

(isso me lembra sempre uma piada ; havia uma obra de restauração na igreja do Largo e um dos pedreiros se desequilibrou e começou a cair do andaime de forma a evocar « Valei-me meu São Francisco ». Surpreendentemente uma mão luminosa lhe agarrou o punho e, num meio-salvamento, perguntou : « São Francisco de que ? DE QUE ? » ; apressado e indeciso o pedreiro gagueja até sua conclusão : « ... de... de... de Assis ? » no que foi largado por São Francisco de Paula ; daí o Largo de São Francisco...).

Queria ler aquilo por causa das minhas paixões; as falsificações, a mímesis, a modernidade, a ficção, a mentira, etc. Enfim, foi com alegria que recebi a notícia da tradução de Sociologia e Monadologia, e o Opinião e as massas já figura, há tempos, em minhas leituras em curso, sabe-se lá por quanto tempo. Mas há um peraí nessa história.


Há algo de desorientador na voga, no anti-Durkheim surgido nestes tempos puxado pelo cavalo Tardio. Uma coisa meio manca e chata, monocórdia sem ser qualquer iniciativa minimalista. Não que Durkheim seja uma figura acima de qualquer suspeita. Tal coisa não há. Vide o santo supracitado. E eu mesmo escrevi algumas coisas em dissensão com o founding father da sociologia antropológica, ou da sociologia francesa, ou da escola das Anées Sociologiques. Mas gostaria de um aparte.


Durkheim carrega hoje o peso de haver sugerido que seu conceito de sociedade faz apelo a uma arquitetura do transcendente, fazendo com que sejam coincidentes « Deus » e « sociedade ». Resumi algumas das passagens do projeto de conhecimento da sociologia em questão, a francesa, para um amigo muito querido meu. Sergio Pachá, filólogo e conhecedor de algumas das fontes teológicas da filosofia medieval, uma vez que é excepcional latinista. Foi ele, sem conhecer a fórmula Deus:Sociedade que ouvi inferir que há na sociologia um projeto teológico sem... Deus. Cabe perguntar, à moda da teologia, se a sociedade, caso assim queira – se é que vontade há – pode por este veículo refutar a si mesma e extinguir sua existência. Quem conhece um tantinho de teologia sabe do que estou falando. E este tipo de pergunta sugere coisa muito, mas muito sintomática.



A querela Tardia contra Durkheim é tardia. E só faz sentido quando o Estado é laico, tal como propagado num nível comunicativo em que o espaço público é composto por seres humanos (e não-humanos ; tá bom !) numa distribuição cósmica homogênea do ponto de vista político. O Estado laico faz as vezes de sociedade no esquemão de mediação das relações e do desejo pela ordem, coisinha kantiana que passeia pela paisagem. Todos os homens na cadeia dos seres, sendo este o enquadramento que precipita as fundamentações românticas sobre a singularidade, coisa desigualmente absorvida tanto por Durkheim quanto por Tarde. A querela, se posso dizer assim, só faz sentido quando o estado laico deixou de ser solução para se tornar um problema. E é neste nível que algumas das considerações Tardias são apressadas. Notem : apressadas, não erradas. Afinal, quem sou eu? E é deste problema, do Estado laico como um problema, que gostaria de seguir em novas considerações. Pretendo falar de algumas coisas que Richard Morse escreveu sobre a fundamentação tomista do Estado nas Américas e a dificuldade de discutir Tarde assim, com pressa quanto ao Brasil ; pretendo discutir a diferença (ai, a diferença!) dos modelos de desfazimento ulterior das fontes teocráticas dos aparelhos e dispositivos do Estado, movimento que começa a ocorrer com força na França, desde 1791 e como Durkheim e Tarde respondem a isso um século depois; pretendo discutir alguns dilemas dos aspectos teocráticos do patriarcalismo tutelar do Brasil, que nunca foi propriamente teocrático, dadas as lacunas da articulção política do Estado até pouco tempo atrás, e defender algumas das premissas das atividades do RESA, grupo danado de bom ao qual me ajuntei tardiamente. Com "t" minúsculo.

Mas agora não, que tá na hora de Chapolim. E depois tem Malhação.


[se o texto está um pouco legível é por responsabilidade de notas de correção de rumo do magnífico Sergio Pachá. Valeu, Sergio!]

E eu me pergunto:

Será que dá certo? Digo, numa perspectiva política ampliada, de largo escopo?


http://www.facebook.com/l.php?u=http%3A%2F%2Fwww.youtube.com%2Fwatch%3Fv%3DOoOEGVob3UE&h=f481c

sábado, 1 de maio de 2010

Era mellhor a cegueira que o imperativo: Veja

As "tribos" têm direito a escolas próprias, o que pode ser considerado um luxo no interior do Norte e do Nordeste, onde milhões de crianças têm de andar quilômetros até a sala de aula mais próxima. "Aqui, só tinha escola até a 8ª série e a duas horas de distância. Depois que a gente se tornou índio, tudo ficou diferente, mais perto", diz Magnólia da Silva, neotupinambá baiana. Isso para não falar da segurança fornecida pela Polícia Federal, que protege as terras de invasões e conflitos agrários. Essas vantagens fizeram as pessoas assumir artificialmente uma condição étnica, a fim de obter serviços que deveriam ser universais", constata o sociólogo Demétrio Magnoli.” Revista Veja, 01 de maio de 2010. No dia do trabalho, respiro a utopia de que a Veja trabalhe. No clube que vou formar com Denise Bottmann, sujeitos como meu conhecido Shelp (no usted, caro Mathias) não entram. No dia do trabalho publicar um desserviço é tosco. É pouco. É alergia. O Magnolli já estava fora por ter escrito livros didáticos de geografia que fui obrigado a ler em meus maus momentos de letargia colegial. No más, Magnolli. Lê-lo só quando é obrigação de palmatória.

Índio que não é índio, negro que não é negro, reservas que abrangem quase 80% do território nacional e podem alcançar uma área ainda maior: o Brasil é mesmo um país único. Para espertinhos e espertalhões.”. Da mesma matéria da Veja - tosca e mal feita. Igual a Segato e DeCarvalho. A dobra do tapete (http://docurvelano.blogspot.com/2009/07/roll-jordan-roll-or-other-name-that-we.html). Contra um tribunal da raça, outro. O que me importa quem é negro ou índio por qual razão? Há de haver uma humanidade homogênea que comprove o ideário da Revolução Francesa? Ni fundeno. Ni a pal. Borracho y puto, mando a todo, todos a la putaquipariu com perdones de la puta por hacer volver a la casa tan mala gente – primeiro palavrão escrito neste ambiente, que vai ser apagado em 8 anos quando o país assumir seu viés totalitário.

Gente chata pra caralho, que acha que o salário é preço de desserviço. Já almocei com essa galera em um dia de sol em Botafogo. Fui tratado com indiferença quando perguntei sobre o serviço na Veja, quando não pior, com constrangimento. Entendi muito da vida naquela tarde. Em especial que simpatia não faz a mesa.

Desde o Zadig e o momento patético da fogueira na Babilônia que o jornalismo precisa ser considerado com suspeita. Séria. Irrestrita. A função social do jornalista não é informar. O jornalismo não tem função social. É a função social do seu leitor que é duvidar-lhe as entranhas até o osso. Desde lá. Daí sim, alguma função. Aqui também.

Gente chata. E muito.

(ser jornalista, reinventar faculdades, obrigar gente interessante a fazer a bosta da faculdade de comunicação para ter um diploma de jacu, tá OK. Reinventar o que índio e preto significa, encontrar meios de fazer a vida correr sem vergonha de ser o que quer que seja, não né? Criado no meio dessa corja, amigos de amigos, colegas de colégio, o que já ouvi enrubescido sobre índios, pretos e pardos, dos meios de eliminar a pobreza via extermínio e coisa parecida.... Enfim. Humor e piadas, eu aceito que é da vida. Mas política eu levo à sério. E o que uns fazem sendo pagos, no fio da cédula que corta a pele, eu tomo na ponta de faca, no fio da espada. É isso aí. Fiquei putinho.)

"Quando dois são um só?"

“O conteúdo lúcido desmaia aos poucos, desfazendo qualquer foco mais estreito e sem controvérsia. É assim que a fome começa a devorar – e a fome devora – algumas coisas que tiram o foco de si, e desfaz a lucidez em outra sorte de desejo, sem mira, quase sem olhos. Estes se convertem em pele e tato desfazendo a gana da contemplação mais robusta, vociferando na garganta, que são olhos também, todo tipo de contato viril, vil, anil. Ecoa no esôfago as formas indiscretas e vibráteis do sono das entranhas aos poucos despertas pelo movimento peristáltico que as anima. Com força. Deu fome. O corpo todo insútil vocifera gritando às partes numa rebeldia incontida, ou numa torcida descontrolada, num movimento de retomada das partes. Sem parte, o movimento de frenesi comuta e perde os dentes da boca já distribuídos na espinha dorsal que mastiga as dores nas costas das costelas neurais, fazendo fluir a circulação de saliva dos dedos do pé até um novo bombeio do ventrículo direito do pulmão esquerdo. E te ponho na boca, me ponho na boca, me adentro na devoragem súbita do tato longo e extenso, rogando por partes novamente antes que me dissolva todo. Ou mais ou menos isso.”

“Credo.”

Vestiu-se e tomou um copo d´água para, enfim, retornar somente após a novela e dormir.

domingo, 25 de abril de 2010

Professor Miagi ensina

que à distância os amigos ficam de fato distantes.

E que o luto é um verbo que se conjuga no presente, com luta, no imperativo.

E que quando solidários, num espirro viramos gotículas em looping.




E que ensinam que o melhor de tudo é que não vai melhorar;

e que se diga isso assim, nesta hora em que a hora for exata, na forma de pilhéria, é por fim diagnóstico e auto-medicação.

E me lembro com alívio de que só ouvi da incrível melhora do mal sem-fim, que mal tem fim e já se imprime com as cores roxas das varizes e hematomas. Ouvi e nada disse.

Dissera eu e então seria outro num trajeto difícil. Mas não.



Enfim, estou pensando nesse tipo de merda que a idade ensina, idade insana.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Holywood my Ass

"The first of 3 photos by Olivier Vandeginste, taken 10 km east of Hvolsvollur at a distance 25 km from the Eyjafjallajokull craters on April 18th, 2010. Lightning and motion-blurred ash appear in this 15-second exposure. (© Olivier Vandeginste) #"

É só isso tudo.


segunda-feira, 19 de abril de 2010

Pra quem escreve, pra quem se dispõe...

Tretas das liberdades civis:

http://naogostodeplagio.blogspot.com/2010/04/aha.html

Escreveria algo. Mas Denise o faz melhor. Prestaria atenção se fosse eu. Mas como não é - digo, você não é eu, ao menos enquanto digito "isto" - aviso: tô sempre de malas prontas pr´Angola. Peço que alguém mande meus livros pra lá, onde pretendo envelhecer meu silêncio quando vivermos numa burocracia totalitária. Aqui, não lá.

domingo, 11 de abril de 2010

Filosofia numa cacetada só (ou duas, vai). Vol. 06.







Norbert Elias






"Norbert Elias é um cara feio e velho, já morto, que nascido em Breslau figura como concorrente forte ao troféu Eric Hobsbawn Carranca, recentemente ganho por Jürgen Habermas - o cearense mais famoso da história da filosofia*. Foi companheiro de campo de Eric Wolf e é conhecido por obra importante sobre o processo civilizador em que alia as táticas de segurar cocô e xixi com o desenvolvimento do Estado, coisa esta que nunca deixou de ser uma merda." (verbete do Dicionário da Organização Anarquista Brasiliense)












(verbete apresentado sob pressão da opinião pública)



Nada adepto do jornalismo

Mas, convenhamos: falar de rosas. Não agora, mas na tática de Marronzinho.

Mas enquanto se aguarda, deixo o marco como ponto polêmico:

http://culturadigital.br/marcocivil/debate/

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Denise Bottman, minha Mulher-Maravilha:

Como sou abusado, reproduzo ipsis litteris o pedido de minha super-heroína predileta que move um caminhão de milho diário e me fez ler facinho aquilo que levaria os 10 anos que levei para ler no original:

Abro aspas e cito:
"
denise disse...

caríssimo, abusando do espaço, pois não encontrei seu e-mail:se não for pedir demais, seria maravilhoso se vc pudesse informar em seu blog que a data final para subscrever o manifesto de jorio, heloísa, ivone e ivo em defesa da luta contra o plágio de traduções se encerra no dia 10 de abril.

http://www.petitiononline.com/Bottmann/petition.html
obrigadíssima,
abraço.
denise

http://naogostodeplagio.blogspot.com/

5 de abril de 2010 16:24"

É isso.

Aproveito para dizer:

Denise,

Você não abusa nunca. Não de mim, fã nada dedicado. Já havia espalhado o abaixo-assinado, a petição, há muito tempo. E o farei de novo. Mas assinei meio anônimo pois sou admirador-secreto.

Segue forte. Não publico nada até dia 10 de abril - e se vier letrinha me agradecer por isso, eu choro.

Abraço do

Refrator de Curvelo

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Teste! Um, dois, três, SOM!

Estou seguindo os passos do Bioy por esses dias. Estou numa de pesquisar fantasmas e máquinas e pretendo fazê-lo pelos próximos 4 anos. Fui a Buenos Aires em setembro para apresentar meus primeiros resultados em um congresso de antropologia - cuja semelhança com El Congreso é mais do que gostaria de afirmar, cheio de representantes de todas as humanidades. Enfim, imaginei que viajando para lá caberia o esforço de ler minha primeira novela argentina em castellano, dado que só alguns contos sofreram essa sorte de assassinato. Li 'La invención de Morel'; caminhei muito pela Belgrano, de Mayo, Mario Bravo, Perón, Boedo, 9 de Julio. Assisti aos dias de passeata da repatriação dos corpos de soldados mortos na Guerra das Malvinas (mais de 30 anos), além de haver debatido os fantasmas segundo o kardecismo em plena Universidad de las Madres, que fazem circular os filhos desaparecidos em outra sorte de aparição.



Entendo que Bioy e Borges sejam amigos. Mas a comparação cessa aí, a da dependência de um diante do outro como sanguessuga e boi gordo. Borges é um escritor da arquitetônica de Buenos Aires - o que fica claro em Evaristo Carriego. É o homem das formas imortais, do sistema (o 'grundstaz' que conhecia como poucos), da persistência além da vontade, daquilo que perdura. É o engenheiro de obras do labirinto que, evidentemente, Buenos Aires é. Caminhar pelas ruas e deixar-se tentar pelas portas abertas - porra, quantas portas abertas! Bioy, por sua vez, é o escritor das forças de Puerto Madero, da assombração, na terra onde ninguém morre e que tem na figura do índio fantasma a última encarnação (?) do eterno retorno do filho morto; ou é com outra coisa Bioy Casares firma contrato ao descrever a invenção de Morel e em escrever 'O lado da sombra'? É com Bioy Casares que o urbanismo de Borges é povoado, assim como é em Macedónio que Deus existe e com Arlt que as coisas, por fim, têm graça - no sentido forte, encontram seu lugar preciso. Só achei que deveria registrar isto, para meu próprio bem.

sábado, 20 de março de 2010

tipografia ideal editora

Do céu irrompe o corte de tipo


uma edição no mundo


como de hábito, como de cor,


decorado,


o ornamento óbvio do seletivo que dispõe que o que está


em cima é como o que está embaixo


em non-sense topográfico do universo infinito,


¿onde? se fica de qualquer forma


menos de ponta-cabeça.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Aderindo ao Boicote que acabo de lançar: Não Compro Livro Landmark nem em Sebo (até porque são pra lá de feios)

http://naogostodeplagio.blogspot.com/2009/01/landmarkismo-estgio-superior-do.html#comment-form

DESPEDIDAS HERMÉTICAS I


Contemporaneidade? É isso mesmo?


Estou me despedindo de minha vida carioca aos poucos, me afastando de uma jornada longa que fez o favor de me enfiar em alguns buracos dos quais nem sempre aprazíveis. Alguns me levaram quase ao esgoto enquanto outros fazem parte dos fluxos anteriores embora prefiramos, ou eu prefiro lembrá-los segundo minha idéia de odor de rosas – e quanto coisa se faz com um ser desanimado a partir de um odor de rosas! E é peculiar que o esgoto e o odor de rosas se ponham aqui juntos de forma a comungar de uma reação estranha que tomou conta de toda uma situação vivida em uma de minhas despedidas herméticas.
Há quem saiba que tenho uma mão direita na antropologia. Há quem diga que aí vive um dos hemisférios de meu cérebro assim como minha falta de vida religiosa. Os donos do sebo Berinjela sabem que pelo menos aí é onde esgoto minha vida financeira que, rezamos um dia frutificará e ressurgirá das cinzas, embora não como uma fênix mas como um zumbi patético como aqueles que ora povoam os romances de Jane Austen – Sense and sensibility with zombies que tanto quero ler. Desta vida de mortes que é minha atividade de antropólogo já vivi momentos mais animados, povoados mesmo de uma sorte grande de pessoas e movimentos. Cheguei mesmo a conversar diariamente com mais de 6 pessoas cujo nome sabia. Ontem as revi.
Durante mais ou menos 2 anos me fiz e me empossaram como pesquisador residente numa companhia de teatro – que é mais um grupo de amigos fazendo o que fazem melhor apesar da carência de recursos (a maior parte deles financeiros). Figurei por dois espetáculos na lista de oficineiros que compactuam com a apresentação, atividade sempre temerária, pois é comum que os atores fazerem o que querem para se pôr em cena. A figura do meteur em scène se dissolveu em alguns egos a mais, embora isso seja mais específico para este ou aquele caso que uma noção geral ou uma questão de classe.
Ao retornar às apresentações do segundo trabalho em que surjo na lista de colaboradores seguindo a rubrica “assessoria teórica”, atividade que nunca entendi a validade até ser tarde demais – ou o cedo da titanomaquia – fui surpreendido por um trecho do programa que reproduzo aqui:

Como a contemporaneidade vê este corpo que é constituinte material de sua possibilidade de existência? As imensas possibilidades de transformar este corpo, que surgem com as novas tecnologias, com o uso de próteses, intervenções cirúrgicas, procedimentos estéticos, etc.”

Eu perguntei imediatamente: como é que a contemporaneidade vê alguma coisa? Como assim? A contemporaneidade é um corpo? Tem um corpo? Sai para fazer as compras, corre nos sábados à tarde e planeja uma intervenção no rosto, fazer um lifting? E etc.? Bom, considerando que meu programa-editor de textos não sublinhou lifting como termo incorreto em português, talvez seja mais ou menos isso mesmo. E por duas razões – e mais uma terceira, concebida a posteriori. A primeira, porque se imagina que haja um contador de tempo comum a um grupo (maior ou menor) de pessoas que divida outras coisas além de uma unidade referencial de tempo, o que lhes permite constituir como sujeito da frase a partir da primeira pessoa do plural, ou mesmo por via de um substantivo que, ao figurar como sujeito da frase é sujeito ativo. A segunda, porque há uma corrente de pensamento já desdobrada que sugere que a coletividade é um corpo também, cuja temerária hipótese sempre fez com que os intelectuais mais reclusos esboçassem seu medo irremediável da massa cheia de homens lobo dos homens, homens homem do homem, facas bicho da bicha, mina coisa do lobo, etc. Há a farinha, há o leite, há ovos, há o fermento, mas há a massa. E isso assusta, porque se a coisa esquentar, há o bolo. A massa cresce e enrijece. Pode haver revolução, mas pode simplesmente acabar em gente mijando na rua atrás do Cordão do Bola Preta, como antevira de Andrade, a.k.a. Oswald.
Fui rever o espetáculo Manifesto Ciborgue, performance em que minha atividade como assessor teórico não excede haver fornecido o libelo homônimo de Donna Haraway, além de haver roubado o livro de W.J. Solha de Leonardo Corajo para fins de pesquisa. E isto me faz muito merecedor das heranças da antropologia. Fiquei com isso na cabeça, essa história da “contemporaneidade ver”. Não gosto da frase que penso ser despreparada, mas fiquei encucado: se a contemporaneidade vê, ao ver, vê ao mesmo tempo? Num mesmo tempo? É aí que a temporalidade como modo de diferença de estâncias que definem a especificidade de um evento assumem o terceiro eixo que fazem com que o esforço em montar uma performance sobre como a contemporaneidade VÊ um corpo foi particularmente bem-sucedida.

Modo de usar (peço perdão pelo clichê) – você chega no espaço Sergio Porto, no Humaitá, Rio de Janeiro. Se não sabe onde fica, se não conhece o Rio como eu, não importa. Se está lendo as regras de comando é porque sabe como funciona. Compra-se o ingresso, ou anuncie-se ao chegar caso seu nome esteja na lista. Se seu caso for o segundo, fique feliz. Por algum razão querem que você veja a montagem e estão facilitando sua vida e é melhor começar a bolar o que vai dizer ao final da peça. Mesmo que seja “cara, estou correndo, preciso ir embora. Parabéns!” e saia. Ao entrar na sala você vai se deparar com um palco todo encarnado em branco, em assepsia hospitalar. Ou quase. À esquerda uma caveira posta num manequim de tronco, sem pernas, vestido com um paletó negro. Seguindo para a direita há uma mesa grande coberta com um tecido branco – uma boa montagem esconde as coisas boas, e ruins, por debaixo dos panos. Em cima da mesa há uma lâmpada fluorescente tubular. Daí seguindo, uma bancadinha com um relógio digital com números em vermelho, uma máquina de escrever – minha; talvez minha melhor contribuição para o teatro nacional – verde-oliva descascado sob uma bancadinha branca, vizinha de outra bancadinha com um telefone de dial em disco também vermelho. Sente-se e supere os momentos de silêncio e veja como a contemporaneidade vê.

Falar de contemporaneidade é uma coisa muito delicada, coisa que cheira a filosofia da história. Em outras palavras, mistura muito bem o odor de rosas e o esgoto o que sempre culmina ou em orgasmo ou em atividade emética (o oposto da hermética). Significa que há um regime, uma ordem em que eventos compartilham do mesmo tempo, o que em si-mesmo significa muito pouco, ou permite dizer muito pouco. Não é um recurso óbvio e para pensar sobre isso basta reduzir a escala, pois ao narrar a história das nações tudo se encaixa melhor. Como o nazismo, por exemplo, que emprega a pureza da raça como veículo de reunião e culminância da história germânica, mas fez uso de travestis saltadoras para ganhar medalhas nos jogos olímpicos de 36. Sem sucesso. Tá, o exemplo não faz muito sentido, mas me deixa mostrar que não é assim que a banda toca e que a contemporaneidade toda não está à mão. Todavia começa-se bem. Todos estavam lá. Todos? Não. Havia uma pequena aldeia de gauleses que resistia fortemente ao Império Romano cercada pelas fortificações de Petibonum, Laudanum, etc. Ocorria haver dentro da sala um grupo de pessoas, pessoas as quais estavam todas lá, sem combinação nem respeito a um ritmo de repetição. Boa parte não se conhecia, não praticava as mesmas profissões (eu sei; sou pesquisador; eu posso escrever isso) e estiveram por ali ao mesmo tempo e, não obstante, dispostos a seguir o ritmo das cenas, rir, esperar e, mais do que tudo, procurar fazer silêncio. Para ser contemporâneo houve quem tivesse esquecido de desligar um aparelho celular permitindo um penetra desinteressado, um acinte. O celular foi prontamente desligado e, por conseguinte, a pessoa fora desligada de outras a partir da interrupção da conexão via microondas. E daqui, partimos para a sorte de contemporaneidade que o programa faz menção – e se não for essa eu não sei o que é. E por duas frentes.
A primeira imagina haver um contador de tempo comum a um grupo (maior ou menor) de pessoas que divida outras coisas além de uma unidade referencial de tempo, o que lhes permite constituir como sujeito da frase a partir da primeira pessoa do plural, ou mesmo por via de um substantivo que, ao figurar como sujeito da frase é sujeito ativo. A segunda participa de uma corrente de pensamento já desdobrada que sugere que a coletividade é um corpo também, cuja temerária hipótese sempre fez com que os intelectuais mais reclusos esboçassem seu medo irremediável da massa cheia de homens lobo dos homens, homem homem do homem, faca bicho da bicha, mina coisa do lobo, etc. Há a farinha, há o leite, há ovos, há o fermento, mas há a massa. E isso assusta, porque se a coisa esquentar, há o bolo. A massa cresce e enrijece. Pode haver revolução, mas pode simplesmente acabar em gente mijando na rua atrás do Cordão do Bola Preta.
Tá, não é lá grande coisa. Não tem cara que grande movimento da história e tampouco de uma ego trip do espírito humano. Azar.

Assim sendo, um abraço para Leo, Lucas, Joelson, Candice, Luciano, Angela e Carmen. Merda pr´ocês. Sempre.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Filosofia numa cacetada só (ou duas, vai), vol. 05










Auguste Comte







































"(...) e sobre o positivismo, sob as mais diversas inventivas que tem como míster sua síntese, só há uma coisa que posso registrar como motivação. φιλο porque kg."


(do apócrifo Morceaux des pensées positiviste. )

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Mural de tosqueria

- Quero dizer... na filosofia, você é solipsista ou alterofilista?

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Para sociólogos iniciantes et. al.

Retirado de Platão e sua Politéia hipotetisa-se que "talvez exista uma justiça numa escala mais ampla, e mais fácil de apreender. Se quiserdes então, investigaremos primeiro qual sua natureza nas cidades. Quando tivermos feito essa indagação, executá-la-emos em relação ao indivíduo, observando a semelhança com o maior na forma do menor". Para seguir com o que quero dizer, em especial que toda a parafernália sobre escala e determinação implica no que séculos depois a sociologia chamará de fato moral, falta ressalvar: não sei no que o tamanho entendido como abrangência implica nos diálogos platônicos, mas que soa à inversão o tal fato moral, isso soa. Até porque, é do elementar é que se parte, este que define que quanto menor, maior. E se parte do fato como definidor, e não da definição segundo sua determinação. E àquilo se chama princípio racional que orienta os saberes empíricos, prática contrária a toda e qualquer metafísica, a saber, o segundo caso. Ao menos foi o que me disseram ainda há pouco, ao que perguntei "positivamente?".


É. Eu acho que é isso. Só queria notar que há um mundo entre afirmações helênicas e sociológicas, um mundo de outras afirmações que não se sabe fazer. E como de hábito, nem eu.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Transe

Sem prestar pra muita coisa, fico por aí.
Eu sei. É o mesmo que dizer que fui embora, ou que saí.
De alguma forma, tanto faz. E não posso esquecer,
Há complemento na frase: tanto faz, como tanto fez. É equivalente.
De um tanto, tal como outro tanto, ambos feitos.
Quase imprestável, não aplicável, vagabundo.
Já escrevi sobre vagabundagem algumas vezes. Mas nunca que tanto faz.
A vagabundagem nunca é uma questão de tanto fazer como tanto fora feito.
De outra forma, dizer-se imprestável é o mesmo
Que negar a proporção.
Sorte de vagabundo, incomparável. Mas como na sorte dos milagres fracos,
Não é exatamente uma grandeza, ser incomparável.
Como na sorte fraca de milagres, incomparável por carência de grandeza.
De robusto só o detalhe imenso que segue por aí
Como se fosse possível apontar para qualquer lugar e
Lá está.
E a simultaneidade impossível dos corpos é um amarrado de idéias da Lei.

Houdini, seu vagabundo.